Os melhores do jazz em 2002
Arnaldo DeSouteiro
The Best Jazz Artists and Recordings in 2002
Arnaldo DeSouteiro
The Best Jazz Artists and Recordings in 2002
Artigo originalmente publicado no jornal "Tribuna da Imprensa"
Story originally printed in Brazil's daily newspaper "Tribuna da Imprensa" (Press Tribune)
Piano acústico: 1º Roland Hanna (“Milano, Paris, NY finding John Lewis – Venus); 2º Mal Waldron; 3º Michel Camilo; 4º Marc Copland; 5º Keith Jarrett
Piano acústico: 1º Roland Hanna (“Milano, Paris, NY finding John Lewis – Venus); 2º Mal Waldron; 3º Michel Camilo; 4º Marc Copland; 5º Keith Jarrett
Piano elétrico: 1º Francesco Gazzara (“The spirit of summer” – Irma); 2º Herbie Hancock; 3º Yancy; 4º Leonardo Pieri; 5º Henry Hey
Órgão: 1º Tony Monaco (Intimately live at the 501” – Summit); 2º Jimmy McGriff; 3º Sam Yahel; 4º John Novello; 5º James Taylor
Teclados: 1º Herbie Hancock (“Future 2 future live” – Sony DVD); 2º Joe Zawinul; 3º Francesco Gazzara; 4º Lyle Mays; 5º Jim Beard
Contrabaixo: 1º Ray Brown (“Brown/Monty Alexander/Russell Malone” – Telarc); 2º Ron Carter; 3º Richard Davis; 4º Dave Holland; 5º Charlie Haden;
Baixo elétrico: 1º Marcus Miller (“The ozell tapes” – JVC); 2º Brian Bromberg; 3º Steve Swallow; 4º Anthony Jackson; 5º Will Lee
Bateria: 1º Dennis Chambers (“Outbreak” - JVC ); 2º Jack DeJohnette; 3º Billy Cobham; 4º Jeff Hamilton; 5º Max Roach
Percussão: 1º Airto Moreira (“Flora Purim sings Milton Nascimento” – EFA); 2º Adam Rudolph; 3º Marilyn Mazur; 4º Don Alias; 5º Paulinho da Costa
Vibrafone: 1º Joe Locke (“State of soul” – Sirocco); 2º Gary Burton; 3º Roy Ayers; 4º David Friedman; 5º Chuck Redd
Diversos: 1º Toots Thielemans – harmonica (“Toots & Kenny Werner” – Verve); 2º Paul McCandless – oboé; 3º Béla Fleck – banjo; 4º Andy Narell – steel drums; 5º Rabih Abou Khalil - oud
Violão: 1º Gene Bertoncini (“Meeting of the grooves” com Frank Vignola – Azica); 2º John Pisano; 3º Larry Coryell; 4º Al DiMeola; 5º Ralph Towner
Guitarra: 1º Anthony Wilson (“Live in Paris” com Diana Krall – ST2 DVD); 2º Jim Hall; 3º John Abercrombie; 4º John Scofield; 5º Satoshi Inoue
Violino: 1º Jean-Luc Ponty (“Live at Semper Opera” – JLP); 2º Regina Carter; 3º Billy Bang; 4º Didier Lockwood; 5º Nakao Terai
Flauta: 1º Hubert Laws (“Bailla Cinderella” - Scepterstein); 2º Yusef Lateef; 3º Nathan Haines; 4º Jerry Dodgion; 5º Frank Wess
Clarinete: 1º Kenny Davern (“Live at the Floating jazz festival” – Chiaroscuro); 2º Eddie Daniels; 3º Buddy DeFranco; 4º Alvin Batiste; 5º Ken Peplowski
Trompete: 1º Till Bronner (“Blue eyed soul” - Verve); 2º Lew Soloff; 3º Randy Brecker; 4º Terumasa Hino; 5º Dave Douglas
Flugelhorn: 1º Kenny Wheeler (“That’s for sure” com Marc Copland - Challenge); 2º Clark Terry; 3º Tom Harrell; 4º Dusko Goykovich; 5º Toku
Trombone: 1º Wycliffe Gordon (“We” com Eric Reed – Nagel Hayer); 2º Jim Pugh; 3º Steve Turre; 4º Bob Brookmeyer; 5º Gianluca Petrella
Sax soprano: 1º Dave Liebman (“Lunar” com Marc Copland – Hat Ology); 2º Wayne Tice; 3º Steve Lacy; 4º Wayne Shorter; 5º Branford Marsalis;
Sax alto: 1º Phil Woods (“Dameronia” - Philology); 2º Anthony Braxton; 3º Kenny Garrett; 4º Bobby Watson; 5º Jackie McLean
Sax tenor: 1º Wayne Shorter (“Footprints live!” – Verve); 2º Michael Brecker; 3º Eric Alexander; 4º Joshua Redman; 5º Charles Lloyd
Sax barítono: 1º Nick Brignola (“Tour de force” - Reservoir); 2º Roger Rosenberg; 3º Ronnie Cuber; 4º Joe Temperley; 5º James Carter
Cantor: 1º Tony Bennett (Playin’ with my friends/Bennett sings the blues” – Sony); 2º Mark Murphy; 3º Jon Hendricks; 4º Andy Bey; 5º Grady Tate
Cantora: 1º Diana Krall (“Live in Paris” – ST2 DVD); 2º Rachelle Ferrell; 3º Dianne Reeves; 4º Dee Dee Bridgewater; 5º Aeran Oh
Grupo vocal: 1º Take 6 (“Beautiful world” – Warner); 2º Manhattan Transfer; 3º New York Voices; 4º Jackie & Roy; 5º Hendricks Family
Grupo instrumental: 1º Manhattan Jazz Quintet (“I got rhythm” – Video Arts); 2º Keith Jarrett Trio; 3º Marc Copland Trio; 4º Niacin; 5º Gazzara
Banda: 1º Manhattan Jazz Orchestra (“Some skunk funk” – Video Arts); 2º The Danish Radio Jazz Orchestra; 3º Mingus Big Band; 4º Dave Holland; 5º Carla Bley
Compositor: 1º Wally Dunbar (“Everything in time” – CAP); 2º Dave Brubeck; 3º Lalo Schifrin; 4º Mike Longo; 5º Mal Waldron
Arranjador: 1º Claus Ogerman (“Live in Paris” com Diana Krall – ST2 DVD); 2º Lalo Schifrin; 3º Don Sebesky; 4º Wally Dunbar; 5º David Matthews
Engenheiro de som: 1º Al Schmitt (“Live in Paris” com Diana Krall – ST2 DVD); 2º Rudy Van Gelder; 3º Jim Anderson; 4º Jim Czak; 5º Roger Rhodes
Revelação: 1º Wayne Tice – saxofones (“Plays the music of Yusef Lateef” – YAL); 2º Saya – piano acústico; 3º Gabriele Mirabassi – clarinete; 4º Warren Chiasson – vibrafone; 5º Jochen Rueckert - bateria
Artista do ano: 1º Diana Krall; 2º Dave Brubeck; 3º Marc Copland; 4º Marcus Miller; 5º Wayne Shorter
Personalidades: Roland Hanna, Ray Brown, Mal Waldron, Roy Kral, Russ Freeman, Nick Brignola, Rosemary Clooney, Ellis Larkins (in memoriam)
Os 10 melhores CDs
(sem ordem de classificação)
Mike Longo Trio: “Still swingin’” (CAP)
Yusef Lateef & Roma Jazz Ensemble: “Homage” (YAL)
Michel Camilo: “Triangulo” (Telarc)
Wally Dunbar: “Everything in time” (CAP)
Marc Copland: “Haunted heart & other ballads” (Hat Ology)
Eric Alexander: “Summit meeting” (Milestone)
Satoshi Inoue & Kiyoshi Kitagawa: “Live at Smoke” (What’s New)
Richard Davis: “So in love” (Paddle Wheel)
Makoto Ozone: “Treasure” (Verve)
Gazzara: “The spirit of summer” (Irma)
Os 10 melhores DVDs
(sem ordem de classificação)
Diana Krall: “Live in Paris” (ST2)
Dave Brubeck: “Brubeck returns to Moscow” (Lance)
Herbie Hancock: “Future to future live” (Sony)
Charlie Haden and the Liberation Music Orchestra: “Live in Montreal” (Image)
Pat Metheny: “Imaginary day” (Pioneer)
Stan Getz: “His last recording, vol. 2” (EMI)
Carla Bley: “Live in Montreal” (Image)
Vários: “Best of Stuttgart jazz open” (ArtHaus)
Niacin: “Live – Blood, Sweat & Bears” (ST2)
Marcus Miller: “In concert” (InAkustik)
Projetos Especiais/Caixas
Charlie Christian: “The genius of the electric guitar” (Legacy)
Miles Davis: “The complete Miles Davis at Montreux” (Warner)
Miles Davis: “The complete in a silent way sessions” (Legacy)
Bill Evans Trio: “Consecration” (Milestone)
Herbie Hancock: “The Herbie Hancock box” (Legacy)
Claus Ogerman: “The man behind the music” (Boutique)
Billie Holiday: “Lady Day – The complete Billie Holiday on Columbia” (Legacy)
Weather Report: “Live and unreleased” (Legacy)
Grant Green: “Retrospective 1961-1966” (Blue Note)
Johnny Smith: “The complete Roost small group sessions” (Mosaic)
A cena jazzística em 2002
Para variar, foram necessárias várias semanas para a preparação de todas estas listas, reouvindo discos, revendo DVDs, checando fichas técnicas e, às vezes, reavaliando opiniões. Tudo isso com o objetivo de fornecer o mais fiel possível retrato do cenário jazzístico em 2002, a partir de bases reais de análise. O que significa, por exemplo, que artistas que não lançaram novos trabalhos este ano tornaram-se, por mais geniais que sejam, automaticamente inelegíveis. Tal critério explica a ausência de feras como Don Byron, Shirley Horn, Elvin Jones, Roy Haynes, Steve Gadd, Barbara Dennerlein, Urbie Green e Horace Silver, entre muitos outros.
2002 ficará também conhecido como o ano da pior crise no mercado discográfico (em termos de jazz) nas duas últimas décadas. A Atlantic fechou seu departamento de jazz, dispensando todo o cast. Um de seus ex-astros, o guitarrista Mike Stern, aceitou gravar um disco para o pequeno (e decadente) selo Chesky, o que dá uma idéia do tamanho do estrago. A Verve também demitiu muita gente, incluindo Christian McBride (apesar da montanha de dinheiro investida na promoção do rapaz, que atua no último disco de Sting) e Kenny Barron, outro que não perdeu tempo em sair fazendo besteira, gravando um disco com o Trio da Paz. Na Blue Note, mais cortes, vitimando a fantástica Eliane Elias (que gravou um disco “brasileirinho” inacreditavelmente medíocre para a BMG) e Charlie Hunter, além de retirar de catálogo dezenas de títulos, até mesmo de seus principais astros, como Joe Lovano. “Custa caro manter um estoque grande”, explicou (?) o diretor Bruce Lundwall à revista Down Beat.
No lado bom, a renovação que começa a acontecer, com a perda de poder dos chamados “young lions”, pseudo neo-boppers. A família Marsalis, depois de quase vinte anos mandando e desmandando na Sony, na época do reinado do chefão George Butler, partiu para a (in)dependência, criando selo próprio. Branford, Ellis & cia. não ficaram em situação pior porque conseguiram distribuição da Rounder. Mas vão ter que rebolar, como diria Sargentelli. Wynton ainda conseguiu lançar um CD-duplo ultra-pretensioso, “All rise”, mas graças a verbas de instituições federais. Apesar da queda violenta dos seus índices de vendagem, continua manipulando a verba de todos os eventos de jazz do Lincoln Center a seu bel prazer, se auto-escalando para participar de todos os concertos e comandando a big-band da casa. Preocupado com a concorrência, conseguiu, numa sórdida manobra de bastidores, fazer com que a direção do Carnegie Hall demitisse a excelente banda então liderada por Jon Faddis, que se despediu com um concerto abrasador no JVC Festival.
Roy Hargrove perdeu o contrato com a Verve mas teve a sorte de gravar um disco ao vivo com Herbie Hancock, tratando, assim como Joshua Redman, de alterar o antigo visual almofadinha, que ninguém mais agüenta. Em outro projeto mais atraente, o tecladista contou com um trompetista muito melhor, Wallace Roney, ao botar na estrada o show do disco “Future 2 Future”, gerando um DVD de primeira. Por falar em DVD, o formato ganhou força e o sempre criativo Dave Brubeck, um jovem de 82 anos, aderiu lançando o magnífico “Brubeck returns to Moscow”, juntando seu quarteto com orquestra sinfônica & coro para revisitar a carreira e apresentar a missa “To hope! A celebration”. Tão indispensável quanto o soberbo “Live in Paris”, de Diana Krall, disparado o melhor lançamento do ano. Tudo perfeito: performances, repertório, grupo (destacando Jeff Hamilton, John Pisano e Paulinho da Costa), orquestrações suntuosas, a presença emociante de Claus Ogerman, os solos endiabrados do guitarrista Anthony Wilson e uma inacreditável qualidade de som. Aliás, 2002 foi o ano da popularização definitiva da mais talentosa loura que o jazz já conheceu, realizando shows com lotação esgotada pelos quatro cantos do planeta.
Outra cantora fenomenal, de estilo inteiramente distinto, Rachelle Ferrell voltou ao jazz, depois da incursão no r&b, lançando um disco que documenta algumas de suas apresentações em Montreux. Um banho nos engodos Jane Monheit e Luciana Souza, aclamada no Brasil como “diva do jazz” mas que nunca cantou um standard na vida. Mais grave: seu mais recente disco, “Brazilian duos”, um trabalho de voz & violão pobre em todos os sentidos, tem apenas MPB, sem traço jazzístico algum. Como então rotular de “jazz singer” uma cantora que se dedica a obras de Luiz Gonzaga e Jacob do Bandolim??? Os méritos de tal blefe devem-se a um (atenção, apenas um) crítico do NY Times, que colocou o disco na sua lista dos melhores de 2001, embora o CD ainda não tivesse sido lançado. Mas o rapaz, obviamente amigo da moça, tinha uma cópia e resolveu dar uma forcinha desinteressada. A brasileirada caiu no logro e deu no que deu.
Por fim, vale destacar os espetaculares trabalhos realizados pelos pianistas Michel Camilo, Marc Copland (com vários CDs impecáveis) e Mike Longo; as estréias irretocáveis do saxofonista Wayne Tice (a grande revelação do ano) e do compositor/arranjador/band-leader Wally Dunbar; e os discos dos bateristas Dennis Chambers, Joe Chambers (nenhum parentesco), Max Roach (em dupla com o milagrosamente renascido Clark Terry no lindo “Friendship”), Billy Cobham e Dave Weckl. Foi também um ano em que todos os grandes baixistas fizeram grandes discos. Inclusive Marcus Miller (também produtor do disco do Take 6, novamente brilhando) e Ray Brown, que partiu cedo, ainda em plena forma, tocando uma barbaridade. Assim como Roland Hanna (o último romântico do jazz – no sentido de Chopin, não de Richard Clayderman), Mal Waldron (entortando tudo nos discos derradeiros com Archie Sheep e Judi Silvano) e Nick Brignola. Já estão fazendo falta.
Foto: Diana Krall
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