Petardos do jazz-fusion voltam ao mercado
“Discos de Stan Getz, Ornette Coleman e Maynard Ferguson são remixados”
“Discos de Stan Getz, Ornette Coleman e Maynard Ferguson são remixados”
Arnaldo DeSouteiro
Artigo escrito por Arnaldo DeSouteiro em 6 de Agosto de 2004 e publicado originalmente no jornal "Tribuna da Imprensa"
Enquanto a crise aumenta, e as gravadoras ficam cada vez mais retraídas no investimento em novos produtos, os relançamentos continuam sendo a primeira opção. Agora, até mesmo o amaldiçoado jazz-fusion - grande sensação nos anos 70 e alvo predileto dos ataques dos puristas após o início da onda retrô dos neo-boppers deflagrada por Wynton Marsalis – volta a ser descoberto e reciclado. Uma recente safra do selo Legacy, comandado por Seth Rothstein na Sony, recoloca no mercado vários petardos que há muito tempo estavam indisponíveis. Entre os destaques, discos antológicos de nomes como Stan Getz, Herbie Hancock, Ornette Coleman e Maynard Ferguson.
Capitão Getz
Para os tradicionalistas esnobes, “Captain Marvel” destoa da discografia “cool” de Stan Getz. Para os não-preconceituosos, destaca-se a ponto de ser chamado de obra-prima pelo renomado crítico Thom Jurek no All Music Guide. Fruto de uma única sessão (3 de março de 1972), gravado “ao vivo” em estúdio, sem overdubs, como se fosse realmente um show, traz o saudoso tenorista na companhia de Chick Corea, Stanley Clarke, Tony Williams e Airto Moreira (percussão). Ou seja, a estrutura básica do Return To Forever, que tinha acabado de gravar – sem Tony e com Joe Farrell nos sopros, além de Flora Purim nos vocais – seu disco de estréia na ECM, apenas um mês antes. Disco que, obviamente, ainda não havia sido lançado. Coube portanto, a Getz, fazer os primeiros registros de temas como “500 miles high” e “Captain Marvel”, que entrariam no segundo LP do Return (“Light as a feather”), gravado em outubro daquele mesmo ano, em Londres.
Como Getz & comparsas vinham de uma temporada no Rainbow Room, em NY (double-bill com João Gilberto), estavam tinindo, totalmente integrados. Previamente relançado apenas na França e no Japão, “Captain Marvel” ganha finalmente uma edição em CD nos EUA, remixada por James Farber, incluindo novo texto de Chick Corea (somado ao original, assinado por Albert Goldman) e – o melhor da história –, três faixas inéditas: fulminantes alternate-takes da faixa-título e de “500 Miles High”, além de uma magnífica interpretação da etérea “Crystal silence”. Outra soberba balada, com Stanley Clarke usando o arco, “Lush life” (de Billy Strayhorn, e a única faixa não composta por Chick) aparece pela primeira vez de forma integral, com 4m14s (até então conhecia-se apenas a versão editada, de 2m27s). Tudo isso fez a duração do disco ampliar-se de 43m45s para 68m13s!
Todos os músicos têm desempenhos brilhantes. Chick (fazendo seu piano elétrico Fender Rhodes valer por mil teclados graças ao criativo uso de pedais de distorção) e Getz aprontam improvisos daqueles merecedores de análise, num fluxo de idéias impressionante. Stanley, então com apenas 20 anos mas já uma fera indomável, usa apenas o baixo acústico, contribuindo com solos não menos inflamados. Tony, o vulcão de sempre na sua polirritmia, não cessa de incentivar os solistas. Airto, no auge da criatividade, barbariza. Seja nas castanholas que reforçam o clima espanholado de “La fiesta”, nos caxixis em “500 miles high” ou no pandeiro que sambifica “Captain marvel”, o genial catarinense mostra porque realizou uma verdadeira revolução no conceito de percussão na história da música.
Vale citar ainda “Times lie” (hoje já considerado um clássico do jazz contemporâneo) e “Day waves”, o único tema desta safra magistral que estranhamente não se popularizou nem mesmo entre os jazzmen. (Ao produzir um disco de Cláudio Roditi, em 91, a escolhi como faixa-título para espanto geral dos músicos, que não a conheciam). Tomara que este relançamento altere essa situação, além de fazer uma nova geração de jazzófilos descobrir que Getz não era um músico conformista limitado ao “cool jazz” ou à bossa nova, mas sim um desbravador sempre disposto a novas aventuras sonoras.
Sax, cordas e guitarras
Naquele mesmo 1972, mais precisamente entre 17 e 20 de Abril nos famosos estúdios Abbey Road, Ornette Coleman registrou o lendário “Skies of América” (41m25), uma epopéia musical baseada na sua teoria harmolódica que vinha sendo colocada em prática desde os anos 50, mas somente recebeu tal nome quando Coleman escreveu o texto de contra-capa para este álbum. O papa do Free Jazz, cujo célebre conceitual disco homônimo patenteou o estilo em 1961, concebeu um poema sinfônico executado pela Sinfônica de Londres sob a regência de David Measham. Para espanto geral, o próprio Ornette, ainda hoje incompreendido, fez todo o árduo trabalho de orquestração deste “manifesto”, tocando seu sax-alto em apenas sete dos 21 movimentos, dominados pela ampla seção de cordas. O engenheiro Mark Wilder fez uma ótima remixagem, aprimorando bastante a qualidade técnica. Autor do livro “Ornette Coleman: a harmolodic life”, John Litweiler disseca a obra – um marco da fusão de jazz e música clássica conhecida como “third-stream” – no detalhado texto do encarte.
Por coincidência também gravado em 72, em Outubro, embora lançado apenas em junho de 1973, “Love devotion surrender” (49m31s) documenta o encontro de dois azes da guitarra, Carlos Santana & John McLaughlin. Definido como “guitar summit meeting” por Hal Miller no texto escrito para esta caprichada reedição, traz duas faixas-bônus inéditas: takes alternativos da balada “Naima” (com os dois mestres nos violões) e da viajante, em todos os sentidos, “A love supreme”, leit-motif do projeto. Ambas compostas por John Coltrane, por quem nossos heróis manifestavam adoração naquela época, quando estavam unidos também pela devoção ao controvertido guru Sri Chinmoy, responsável pelos nomes Mahavishnu e Devadip adotados por John e Carlos, respectivamente. Idealizado pelo raposão Clive Davis, então diretor da Columbia, o encontro gerou ainda duas peças de McLaughlin (“The life divine”, “Meditation”) e uma releitura a la Pharoah Sanders do spiritual “Let us go into the house of Lord”. No suporte, juntaram-se membros da Mahavishnu Orchestra (Billy Cobham, Jan Hammer) e da banda de Santana (o precocemente falecido baixista Doug Rauch, o batera Mike Shrieve que nunca obteve o merecido reconhecimento, e o lendário conguero Armando Peraza). Sem falar da canja ultra-especial do organista Larry Young, rebatizado Khalid Yasin.
Balanço funk
Depois das trips meditativas, calcadas em buscas espirituais cujas respostas eram freqüentemente encontradas em seitas orientais, chegou a hora do jazz-fusion (então conhecido como jazz-rock) embarcar no hedonismo e cair no funk. O responsável pela reviravolta? Herbie Hancock, com seu discaço “Headhunters” (41m49s), concebido no outono americano de 1973 sob a forte influência de Sly Stone – em particular pelo sucesso “Thank you for letting be myself”. Herbie formou um grupo demolidor de fronteiras, armando grooves irresistíveis: Paul Jackson Jr. (baixista cujas “levadas” fizeram tremer as pistas de dança mundo afora), Harvey Mason (bateria), Bill Summers (percussão) e Bennie Maupin (revezando-se na flauta, clarone e saxofones soprano & tenor). Pilotando um arsenal de teclados analógicos (piano elétrico Rhodes, sintetizadores Arp e o Hohner Clavinet modelo D6, a grande novidade naquele momento). A faixa de abertura, “Chameleon”, apesar de ter mais de 15 minutos, virou hit instantâneo, levando o LP ao topo da parada de jazz da Billboard, além de chegar ao segundo lugar na lista de “black music” e ao décimo-terceiro na parada “pop”, culminando com duas indicações ao Grammy em 1974. O CD traz uma regravação de “Watermelon man” e duas faixas sensacionais, “Sly” (homenagem ao ícone do funk, repleta de fascinantes sucessivas mudanças de climas) e “Vein melter”, ofuscadas por “Chameleon”. Esta nova prensagem foi remasterizada “na pressão”, juntando os textos de Hancock e Scott Thompson para as edições de 1992 e 96.
Toda essa badalação levou o trompetista canadense Maynard Ferguson (nascido em 1928) a dar o título de “Chameleon” (40m06s) a seu LP produzido por Teo Macero em Abril de 1974, em NY, e agora totalmente remixado sob a supervisão de Bob Belden. Liderando uma banda de 13 figuras, Ferguson alcança superagudos inacreditáveis em “La fiesta”, revisita sucessos pop de Stevie Wonder (“Livin’ for the city”) e Barbra Streisand (a melosa “The way we were”), revaza-se no trompete e no superbone (uma mistura de trombones de vara & válvula) na bombástica “Superbone meets the bad man”, e ataca como vocalista no standard “I can’t get started”. O resultado? Número 13 na parada de jazz da Billboard.
O sucesso foi muito, mas muito maior, três anos depois, em 1977, quando “Conquistador” (35m59s) chegou ao primeiro lugar na lista de jazz e ao vigésimo-segundo na parada pop, puxado pelo estouro da faixa “Gonna fly now”. Não caiu a ficha? Lembra de “Rocky, o lutador”? Pois bem, trata-se do tema principal do filme que consagrou Sylvester Stallone, numa versão muito superior à original do autor, Bill Conti. “Ele ganhou tanta grana com a minha gravação que, ao ampliar sua casa, chamou de Maynard’s Rooms os dois quartos adicionais que mandou construir”, diverte-se Maynard no livreto. Começava a era da “disco-music” e Ferguson foi dos primeiros jazzmen a embarcar na onda, alargando ainda mais as fronteiras do fusion. Nesta superprodução de Bob James, sua banda foi reforçada por mais 50 músicos (gente como George Benson, Eric Gale, Joe Farrell, George Young, Randy Brecker), incluindo seção de cordas e coro (com Patti Austin, Gwen Guthrie e até Linda November, ex-vocalista de Walter Wanderley) em algumas faixas. Há uma escorregada feia na insípida “Mr. Mellow”, mas MF recupera-se no tema do seriado “Jornada nas estrelas”. Jogou para a torcida e correu para o abraço.
Legendas:
“Captain Marvel”, de Stan Getz, aparece em CD com três faixas inéditas
Maynard Ferguson: fama e fortuna graças ao disco “Conquistador”
Enquanto a crise aumenta, e as gravadoras ficam cada vez mais retraídas no investimento em novos produtos, os relançamentos continuam sendo a primeira opção. Agora, até mesmo o amaldiçoado jazz-fusion - grande sensação nos anos 70 e alvo predileto dos ataques dos puristas após o início da onda retrô dos neo-boppers deflagrada por Wynton Marsalis – volta a ser descoberto e reciclado. Uma recente safra do selo Legacy, comandado por Seth Rothstein na Sony, recoloca no mercado vários petardos que há muito tempo estavam indisponíveis. Entre os destaques, discos antológicos de nomes como Stan Getz, Herbie Hancock, Ornette Coleman e Maynard Ferguson.
Capitão Getz
Para os tradicionalistas esnobes, “Captain Marvel” destoa da discografia “cool” de Stan Getz. Para os não-preconceituosos, destaca-se a ponto de ser chamado de obra-prima pelo renomado crítico Thom Jurek no All Music Guide. Fruto de uma única sessão (3 de março de 1972), gravado “ao vivo” em estúdio, sem overdubs, como se fosse realmente um show, traz o saudoso tenorista na companhia de Chick Corea, Stanley Clarke, Tony Williams e Airto Moreira (percussão). Ou seja, a estrutura básica do Return To Forever, que tinha acabado de gravar – sem Tony e com Joe Farrell nos sopros, além de Flora Purim nos vocais – seu disco de estréia na ECM, apenas um mês antes. Disco que, obviamente, ainda não havia sido lançado. Coube portanto, a Getz, fazer os primeiros registros de temas como “500 miles high” e “Captain Marvel”, que entrariam no segundo LP do Return (“Light as a feather”), gravado em outubro daquele mesmo ano, em Londres.
Como Getz & comparsas vinham de uma temporada no Rainbow Room, em NY (double-bill com João Gilberto), estavam tinindo, totalmente integrados. Previamente relançado apenas na França e no Japão, “Captain Marvel” ganha finalmente uma edição em CD nos EUA, remixada por James Farber, incluindo novo texto de Chick Corea (somado ao original, assinado por Albert Goldman) e – o melhor da história –, três faixas inéditas: fulminantes alternate-takes da faixa-título e de “500 Miles High”, além de uma magnífica interpretação da etérea “Crystal silence”. Outra soberba balada, com Stanley Clarke usando o arco, “Lush life” (de Billy Strayhorn, e a única faixa não composta por Chick) aparece pela primeira vez de forma integral, com 4m14s (até então conhecia-se apenas a versão editada, de 2m27s). Tudo isso fez a duração do disco ampliar-se de 43m45s para 68m13s!
Todos os músicos têm desempenhos brilhantes. Chick (fazendo seu piano elétrico Fender Rhodes valer por mil teclados graças ao criativo uso de pedais de distorção) e Getz aprontam improvisos daqueles merecedores de análise, num fluxo de idéias impressionante. Stanley, então com apenas 20 anos mas já uma fera indomável, usa apenas o baixo acústico, contribuindo com solos não menos inflamados. Tony, o vulcão de sempre na sua polirritmia, não cessa de incentivar os solistas. Airto, no auge da criatividade, barbariza. Seja nas castanholas que reforçam o clima espanholado de “La fiesta”, nos caxixis em “500 miles high” ou no pandeiro que sambifica “Captain marvel”, o genial catarinense mostra porque realizou uma verdadeira revolução no conceito de percussão na história da música.
Vale citar ainda “Times lie” (hoje já considerado um clássico do jazz contemporâneo) e “Day waves”, o único tema desta safra magistral que estranhamente não se popularizou nem mesmo entre os jazzmen. (Ao produzir um disco de Cláudio Roditi, em 91, a escolhi como faixa-título para espanto geral dos músicos, que não a conheciam). Tomara que este relançamento altere essa situação, além de fazer uma nova geração de jazzófilos descobrir que Getz não era um músico conformista limitado ao “cool jazz” ou à bossa nova, mas sim um desbravador sempre disposto a novas aventuras sonoras.
Sax, cordas e guitarras
Naquele mesmo 1972, mais precisamente entre 17 e 20 de Abril nos famosos estúdios Abbey Road, Ornette Coleman registrou o lendário “Skies of América” (41m25), uma epopéia musical baseada na sua teoria harmolódica que vinha sendo colocada em prática desde os anos 50, mas somente recebeu tal nome quando Coleman escreveu o texto de contra-capa para este álbum. O papa do Free Jazz, cujo célebre conceitual disco homônimo patenteou o estilo em 1961, concebeu um poema sinfônico executado pela Sinfônica de Londres sob a regência de David Measham. Para espanto geral, o próprio Ornette, ainda hoje incompreendido, fez todo o árduo trabalho de orquestração deste “manifesto”, tocando seu sax-alto em apenas sete dos 21 movimentos, dominados pela ampla seção de cordas. O engenheiro Mark Wilder fez uma ótima remixagem, aprimorando bastante a qualidade técnica. Autor do livro “Ornette Coleman: a harmolodic life”, John Litweiler disseca a obra – um marco da fusão de jazz e música clássica conhecida como “third-stream” – no detalhado texto do encarte.
Por coincidência também gravado em 72, em Outubro, embora lançado apenas em junho de 1973, “Love devotion surrender” (49m31s) documenta o encontro de dois azes da guitarra, Carlos Santana & John McLaughlin. Definido como “guitar summit meeting” por Hal Miller no texto escrito para esta caprichada reedição, traz duas faixas-bônus inéditas: takes alternativos da balada “Naima” (com os dois mestres nos violões) e da viajante, em todos os sentidos, “A love supreme”, leit-motif do projeto. Ambas compostas por John Coltrane, por quem nossos heróis manifestavam adoração naquela época, quando estavam unidos também pela devoção ao controvertido guru Sri Chinmoy, responsável pelos nomes Mahavishnu e Devadip adotados por John e Carlos, respectivamente. Idealizado pelo raposão Clive Davis, então diretor da Columbia, o encontro gerou ainda duas peças de McLaughlin (“The life divine”, “Meditation”) e uma releitura a la Pharoah Sanders do spiritual “Let us go into the house of Lord”. No suporte, juntaram-se membros da Mahavishnu Orchestra (Billy Cobham, Jan Hammer) e da banda de Santana (o precocemente falecido baixista Doug Rauch, o batera Mike Shrieve que nunca obteve o merecido reconhecimento, e o lendário conguero Armando Peraza). Sem falar da canja ultra-especial do organista Larry Young, rebatizado Khalid Yasin.
Balanço funk
Depois das trips meditativas, calcadas em buscas espirituais cujas respostas eram freqüentemente encontradas em seitas orientais, chegou a hora do jazz-fusion (então conhecido como jazz-rock) embarcar no hedonismo e cair no funk. O responsável pela reviravolta? Herbie Hancock, com seu discaço “Headhunters” (41m49s), concebido no outono americano de 1973 sob a forte influência de Sly Stone – em particular pelo sucesso “Thank you for letting be myself”. Herbie formou um grupo demolidor de fronteiras, armando grooves irresistíveis: Paul Jackson Jr. (baixista cujas “levadas” fizeram tremer as pistas de dança mundo afora), Harvey Mason (bateria), Bill Summers (percussão) e Bennie Maupin (revezando-se na flauta, clarone e saxofones soprano & tenor). Pilotando um arsenal de teclados analógicos (piano elétrico Rhodes, sintetizadores Arp e o Hohner Clavinet modelo D6, a grande novidade naquele momento). A faixa de abertura, “Chameleon”, apesar de ter mais de 15 minutos, virou hit instantâneo, levando o LP ao topo da parada de jazz da Billboard, além de chegar ao segundo lugar na lista de “black music” e ao décimo-terceiro na parada “pop”, culminando com duas indicações ao Grammy em 1974. O CD traz uma regravação de “Watermelon man” e duas faixas sensacionais, “Sly” (homenagem ao ícone do funk, repleta de fascinantes sucessivas mudanças de climas) e “Vein melter”, ofuscadas por “Chameleon”. Esta nova prensagem foi remasterizada “na pressão”, juntando os textos de Hancock e Scott Thompson para as edições de 1992 e 96.
Toda essa badalação levou o trompetista canadense Maynard Ferguson (nascido em 1928) a dar o título de “Chameleon” (40m06s) a seu LP produzido por Teo Macero em Abril de 1974, em NY, e agora totalmente remixado sob a supervisão de Bob Belden. Liderando uma banda de 13 figuras, Ferguson alcança superagudos inacreditáveis em “La fiesta”, revisita sucessos pop de Stevie Wonder (“Livin’ for the city”) e Barbra Streisand (a melosa “The way we were”), revaza-se no trompete e no superbone (uma mistura de trombones de vara & válvula) na bombástica “Superbone meets the bad man”, e ataca como vocalista no standard “I can’t get started”. O resultado? Número 13 na parada de jazz da Billboard.
O sucesso foi muito, mas muito maior, três anos depois, em 1977, quando “Conquistador” (35m59s) chegou ao primeiro lugar na lista de jazz e ao vigésimo-segundo na parada pop, puxado pelo estouro da faixa “Gonna fly now”. Não caiu a ficha? Lembra de “Rocky, o lutador”? Pois bem, trata-se do tema principal do filme que consagrou Sylvester Stallone, numa versão muito superior à original do autor, Bill Conti. “Ele ganhou tanta grana com a minha gravação que, ao ampliar sua casa, chamou de Maynard’s Rooms os dois quartos adicionais que mandou construir”, diverte-se Maynard no livreto. Começava a era da “disco-music” e Ferguson foi dos primeiros jazzmen a embarcar na onda, alargando ainda mais as fronteiras do fusion. Nesta superprodução de Bob James, sua banda foi reforçada por mais 50 músicos (gente como George Benson, Eric Gale, Joe Farrell, George Young, Randy Brecker), incluindo seção de cordas e coro (com Patti Austin, Gwen Guthrie e até Linda November, ex-vocalista de Walter Wanderley) em algumas faixas. Há uma escorregada feia na insípida “Mr. Mellow”, mas MF recupera-se no tema do seriado “Jornada nas estrelas”. Jogou para a torcida e correu para o abraço.
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“Captain Marvel”, de Stan Getz, aparece em CD com três faixas inéditas
Maynard Ferguson: fama e fortuna graças ao disco “Conquistador”
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