A bossa atemporal de João Palma no Partitura
Arnaldo DeSouteiro
Arnaldo DeSouteiro
Artigo escrito por Arnaldo DeSouteiro e publicado originalmente no jornal "Tribuna da Imprensa"
Segundo um dos mais conceituados críticos de jazz da atualidade, Alex Henderson, do All Music Guide, “a importância de João Palma no mundo da bateria é igual a de Max Roach e John Bonham”. Dennis Seiwell – batera do grupo Wings, de Paul McCartney – sempre cita Palma como seu baterista favorito. Agora, depois da temporada de sucesso, em 2001, na Sala Funarte, Palma volta a matar a saudade dos fãs brasileiros com três imperdíveis shows, hoje, amanhã e domingo, as 21:30hs, no Partitura (Av. Epitáceo Pessoa 5030, Lagoa). Ao seu lado, amigos fiéis como o pianista Haroldo Goldfarb, o baixista Fernando Leporace e a cantora Ithamara Koorax. “É sempre um prazer tocar no Rio, e uma grande alegria tocar com músicos tão bons”, afirma João. “E a Ithamara eu faço questão de ter sempre como minha convidada especial, porque, além de uma intérprete extraordinária, ela dá um charme extra ao show.”
Aclamado como um dos maiores bateristas na história da música brasileira – e, certamente, o mais sutil e requintado dentre todos os bateras consagrados na época da bossa nova -, o carioca João Palma deixou sua marca estampada em vários sucessos interplanetários de Tom Jobim (“Águas de Março”, “Ligia”, “Stone flower”) e Sergio Mendes (“Mas que nada”, “Going out of my head”, The look of love”). “Vamos relembrar todas essas músicas no show, tenho orgulho do meu passado”, declara. “Toquei com o Tom por quase dez anos, fizemos seis discos juntos, inclusive o segundo álbum dele com o Sinatra. Antes eu tinha tocado por quatro anos com o Sergio, na época áurea do Brasil 66”. Também estará no repertório a canção "Absolutely", música inédita de Tom Jobim gravada por Ithamara Koorax para a trilha sonora da novela "Celebridade".
Entre os artistas americanos que serão homenageados, Palma destaca os saxofonistas Paul Desmond e Stanley Turrentine, já falecidos. “Desmond tinha uma sonoridade aveludada de sax-alto que nunca ninguém conseguiu imitar. Toquei no último disco dele para a A&M, ao lado do Herbie Hancock no piano, do Ron Carter no baixo, e do Airto Moreira na percussão, com orquestrações maravilhosas do meu amigo Don Sebesky. É um disco só com arranjos jazzísticos para temas do Paul Simon, que já saiu em CD. Chama-se “Bridge over troubled water”. Com o Turrentine, que tinha um som forte e redondo no sax-tenor, eu inclusive excursionei várias vezes. Gravei no disco dele em dupla com a Astrud Gilberto, produzido pelo Creed Taylor para a CTI Records”.
Nascido em 1943, revelado no Beco das Garrafas em fins dos anos 50, Palma foi o baterista original do grupo Copa Trio, com Manuel Gusmão no baixo e Toninho Oliveira no piano. “Quando fui chamado para o Serviço Militar, o Dom Um Romão me substituiu”, revela. “Na volta, entrei no grupo do Eumir, que tocava na TV Rio, e aquele conjunto depois virou o quinteto do Menescal. Fizemos dois discos na Elenco, do Aloysio de Oliveira, e um no selo Imperial, além de LPs com Maysa, Sylvia Telles e Lucio Alves”. Atendendo ao convite de Sergio Mendes, embarcou para os Estados Unidos em 65. “Cheguei logo para gravar o disco The great arrival, com arranjos de Clare Fischer e outros feras que eu idolatrava. Com a orquestra toda no estúdio, como se fosse um show ao vivo. Fiquei um pouco intimidado, tanto que minha execução é bastante contida naquele álbum”.
Pouco depois, já no célebre Sergio Mendes & Brasil 66, ajudou a emplacar o maior sucesso na carreira do pianista, “Mas que nada”, seguido por dois outros LPs (“Equinox” e “The look of love”) geradores de longas excursões pelos quatro cantos do planeta. Mudando-se da Califórnia para Nova Iorque, Palma gravou todas as faixas de “Courage”, disco de estréia de Milton Nascimento no exterior (“tem as melhores músicas dele, como “Travessia”, “Morro velho”, “Canção do sal”, ele nunca mais fez um disco tão bom...”) e entrou para a banda de Walter Wanderley, atuando nos LPs “When it was done” e “Moondreams”. No meio de uma turnê pelo México, recebeu a notícia de que um jatinho estava à sua espera para leva-lo a Los Angeles. Era um chamado de Frank Sinatra, que o convidava para a gravação do álbum “Sinatra & Company”, com músicas e violão de Tom Jobim, Ray Brown no baixo, e arranjos de Eumir Deodato.
A partir dali (junho de 69), tornou-se o baterista predileto de Tom, com quem trabalhou até 75 em discos como “Tide”, “Stone flower”, “Matita perê” e “Urubu”. Nos anos 70 e 80, continuou ativo nos estúdios de LA e NY, gravando com Robin Kenyatta, George Russell, Astrud Gilberto, Joyce e até Michael Franks, no cultuado “Sleeping gypsy”, ao lado de Claus Ogerman, David Sanborn, João Donato e Michael Brecker. Nas férias, sempre vinha ao Brasil, aproveitando para deixar sua marca em álbuns memoráveis como “Água e vinho” (Egberto Gismonti), “Mudança dos ventos” (Nana Caymmi), “Dreams are real” (José Roberto Bertrami), e “Dori Caymmi” (“um LP de 1980 para a EMI que tinha “A porta” e uma regravação de “Saveiros” que ficou genilal”).
Na última década, reduziu bastante o ritmo de trabalho. “Passei a tocar apenas por prazer”, garante. “Com 40 anos de carreira, não tenho mais nada a provar, de formas que só aceito participar de projetos que sejam enriquecedores para mim. Não aguento mais ego-trip de músico inseguro, quero é me divertir no palco, quero que a platéia viaje junto comigo.” Os vários shows com Ithamara Koorax desde 1996, sempre com casa cheia, foram algumas dessas ocasiões, assim como a gravações de algumas faixas para o novo CD da cantora, “Love dance”. E também como prometem ser os shows no Partitura “Vamos arrasar!”, declara.
Legenda:
“Depois de gravarem juntos, Ithamara Koorax e João Palma fazem shows no Rio”
Segundo um dos mais conceituados críticos de jazz da atualidade, Alex Henderson, do All Music Guide, “a importância de João Palma no mundo da bateria é igual a de Max Roach e John Bonham”. Dennis Seiwell – batera do grupo Wings, de Paul McCartney – sempre cita Palma como seu baterista favorito. Agora, depois da temporada de sucesso, em 2001, na Sala Funarte, Palma volta a matar a saudade dos fãs brasileiros com três imperdíveis shows, hoje, amanhã e domingo, as 21:30hs, no Partitura (Av. Epitáceo Pessoa 5030, Lagoa). Ao seu lado, amigos fiéis como o pianista Haroldo Goldfarb, o baixista Fernando Leporace e a cantora Ithamara Koorax. “É sempre um prazer tocar no Rio, e uma grande alegria tocar com músicos tão bons”, afirma João. “E a Ithamara eu faço questão de ter sempre como minha convidada especial, porque, além de uma intérprete extraordinária, ela dá um charme extra ao show.”
Aclamado como um dos maiores bateristas na história da música brasileira – e, certamente, o mais sutil e requintado dentre todos os bateras consagrados na época da bossa nova -, o carioca João Palma deixou sua marca estampada em vários sucessos interplanetários de Tom Jobim (“Águas de Março”, “Ligia”, “Stone flower”) e Sergio Mendes (“Mas que nada”, “Going out of my head”, The look of love”). “Vamos relembrar todas essas músicas no show, tenho orgulho do meu passado”, declara. “Toquei com o Tom por quase dez anos, fizemos seis discos juntos, inclusive o segundo álbum dele com o Sinatra. Antes eu tinha tocado por quatro anos com o Sergio, na época áurea do Brasil 66”. Também estará no repertório a canção "Absolutely", música inédita de Tom Jobim gravada por Ithamara Koorax para a trilha sonora da novela "Celebridade".
Entre os artistas americanos que serão homenageados, Palma destaca os saxofonistas Paul Desmond e Stanley Turrentine, já falecidos. “Desmond tinha uma sonoridade aveludada de sax-alto que nunca ninguém conseguiu imitar. Toquei no último disco dele para a A&M, ao lado do Herbie Hancock no piano, do Ron Carter no baixo, e do Airto Moreira na percussão, com orquestrações maravilhosas do meu amigo Don Sebesky. É um disco só com arranjos jazzísticos para temas do Paul Simon, que já saiu em CD. Chama-se “Bridge over troubled water”. Com o Turrentine, que tinha um som forte e redondo no sax-tenor, eu inclusive excursionei várias vezes. Gravei no disco dele em dupla com a Astrud Gilberto, produzido pelo Creed Taylor para a CTI Records”.
Nascido em 1943, revelado no Beco das Garrafas em fins dos anos 50, Palma foi o baterista original do grupo Copa Trio, com Manuel Gusmão no baixo e Toninho Oliveira no piano. “Quando fui chamado para o Serviço Militar, o Dom Um Romão me substituiu”, revela. “Na volta, entrei no grupo do Eumir, que tocava na TV Rio, e aquele conjunto depois virou o quinteto do Menescal. Fizemos dois discos na Elenco, do Aloysio de Oliveira, e um no selo Imperial, além de LPs com Maysa, Sylvia Telles e Lucio Alves”. Atendendo ao convite de Sergio Mendes, embarcou para os Estados Unidos em 65. “Cheguei logo para gravar o disco The great arrival, com arranjos de Clare Fischer e outros feras que eu idolatrava. Com a orquestra toda no estúdio, como se fosse um show ao vivo. Fiquei um pouco intimidado, tanto que minha execução é bastante contida naquele álbum”.
Pouco depois, já no célebre Sergio Mendes & Brasil 66, ajudou a emplacar o maior sucesso na carreira do pianista, “Mas que nada”, seguido por dois outros LPs (“Equinox” e “The look of love”) geradores de longas excursões pelos quatro cantos do planeta. Mudando-se da Califórnia para Nova Iorque, Palma gravou todas as faixas de “Courage”, disco de estréia de Milton Nascimento no exterior (“tem as melhores músicas dele, como “Travessia”, “Morro velho”, “Canção do sal”, ele nunca mais fez um disco tão bom...”) e entrou para a banda de Walter Wanderley, atuando nos LPs “When it was done” e “Moondreams”. No meio de uma turnê pelo México, recebeu a notícia de que um jatinho estava à sua espera para leva-lo a Los Angeles. Era um chamado de Frank Sinatra, que o convidava para a gravação do álbum “Sinatra & Company”, com músicas e violão de Tom Jobim, Ray Brown no baixo, e arranjos de Eumir Deodato.
A partir dali (junho de 69), tornou-se o baterista predileto de Tom, com quem trabalhou até 75 em discos como “Tide”, “Stone flower”, “Matita perê” e “Urubu”. Nos anos 70 e 80, continuou ativo nos estúdios de LA e NY, gravando com Robin Kenyatta, George Russell, Astrud Gilberto, Joyce e até Michael Franks, no cultuado “Sleeping gypsy”, ao lado de Claus Ogerman, David Sanborn, João Donato e Michael Brecker. Nas férias, sempre vinha ao Brasil, aproveitando para deixar sua marca em álbuns memoráveis como “Água e vinho” (Egberto Gismonti), “Mudança dos ventos” (Nana Caymmi), “Dreams are real” (José Roberto Bertrami), e “Dori Caymmi” (“um LP de 1980 para a EMI que tinha “A porta” e uma regravação de “Saveiros” que ficou genilal”).
Na última década, reduziu bastante o ritmo de trabalho. “Passei a tocar apenas por prazer”, garante. “Com 40 anos de carreira, não tenho mais nada a provar, de formas que só aceito participar de projetos que sejam enriquecedores para mim. Não aguento mais ego-trip de músico inseguro, quero é me divertir no palco, quero que a platéia viaje junto comigo.” Os vários shows com Ithamara Koorax desde 1996, sempre com casa cheia, foram algumas dessas ocasiões, assim como a gravações de algumas faixas para o novo CD da cantora, “Love dance”. E também como prometem ser os shows no Partitura “Vamos arrasar!”, declara.
Legenda:
“Depois de gravarem juntos, Ithamara Koorax e João Palma fazem shows no Rio”
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