Os 50 anos do Newport Jazz Festival
“CD-triplo, com gravações históricas, celebra o cinqüentenário do primeiro festival de jazz”
Arnaldo DeSouteiro
“CD-triplo, com gravações históricas, celebra o cinqüentenário do primeiro festival de jazz”
Arnaldo DeSouteiro
Artigo escrito por Arnaldo DeSouteiro em 19 de Agosto de 2004 e publicado originalmente no jornal "Tribuna da Imprensa"
No último dia 11, pontualmente às sete e meia da noite, quando Dave Brubeck tocou os primeiros acordes da cantata “The Gates of justice”, iniciavam-se as comemorações pelos 50 anos do célebre Festival de Jazz de Newport. Infelizemente, seu criador George Wein, 78 anos, não pôde assistir aos concertos; convalescendo de uma cirurgia, foi ao jantar de gala, mas retornou em seguida para sua casa em New York, por ordens médicas. Lamentava, principalmente, não ver o show do velho amigo Lee Konitz, que havia tocado na primeira edição do Festival, em 1954. Mas garantiu que ia passar o final de semana celebrando a data de uma outra maneira: ouvindo o CD-triplo “Happy Birthday Newport! 50 Swinging Years”, por ele mesmo compilado para a Sony/Legacy.
Encontros inusitados
“Jazz era uma palavra suja naquela época...”, escreve George Wein no início do texto do luxuoso livretro de 52 páginas, ilustrado por inúmeras fotos preciosas, que acompanha o CD-triplo “Happy Birthday Newport! 50 Swinging Years”, co-produzido por Wein, Michael Cuscuna e Robert Jones. “A sociedade americana era muito diferente em 1954, a segregação era parte da consciência nacional”, continua ele. “Newport simbolizava a opulência de um setor privilegiado da sociedade americana, era o último lugar onde imaginavam que pudesse acontecer um evento com músicos afro-americanos. Antes de 54 não haviam festivais de jazz nos EUA, ou eventos anuais de jazz em qualquer outro lugar do mundo. Cinqüenta anos depois, há centenas de festivais espalhados por cinco continentes, todos tratando os músicos de jazz de forma respeitosa, tanto culturalmente quanto financeiramente”.
Na seqüência, Mr. Wein comenta cada uma das 27 faixas selecionadas, começando, claro, por Louis Armastrong tocando (“Tin roof blues”) e cantando (“Mack the knife”) em 1956. Daquele mesmo ano, o tema tradicional “Bye an’ bye” aparece com o guitarrista Eddie Condon, da chamada “escola de Chicago”, seguido por “Echoes of spring” em duo de piano (Willie “The Lion” Smith, que ressuscitou artisticamente graças à Newport) & bateria (Jimmy Zintano) safra 58. O saltitante “Just you just me” surge num registro de 63, com a turma chamada de Newport All-Stars: o próprio George ao piano, Wendell Marshall (baixo), o até hoje ativo Roy Haynes (bateria), Ruby Braff (trompete) e Bud Freeman (“o tenorista com cabeça de matemático”, na definição de Wein).
Roy Haynes, aliás, em comovente entrevista à Joshua Redman publicada na última edição da revista Down Beat (agosto de 2004), ao ser perguntado “What is jazz?”, deu a seguinte resposta histórica: “Jazz? É apenas uma palavra. Da qual nunca gostei. Jazz é improvisação. Qualquer coisa pode ser jazz”. Se um Pat Metheny da vida viesse com essa resposta, os fascistas esnobes debochariam do rapaz, alegando faltar-lhe legitimidade para discorrer sobre o assunto. Mas, agora que Roy Haynes, por eles venerado e recém-alçado ao Hall of Fame da Down Beat, teve coragem de dar esse veredicto, o que os chatíssimos tradicionalistas irão alegar?
Voltando ao disco, “On the sunny side of the street”, mostra um timaço ainda mais fantástico, batizado de Newport International Jazz Band, juntando 19 músicos de diferentes nacionalidades (entre eles, o saudoso guitarrista húngaro Gabor Szabo, o trompetista iugoslavo Dusko Goykovich, o trombonista alemão Albert Mangelsdorff, o sax-barítono inglês Ronnie Ross até hoje barbarizando nos discos do grupo de new-bossa Matt Bianco, e o pianista suíço George Gruntz). Impossível algo mais inusitado? Bem, que tal Roy Haynes e o austríaco Joe Zawinul, que viria a revolucionar o jazz nos anos 70 na fase “Bitches Brew” de Miles Davis – atenção, atenção! este disco histórico acaba de alcançar a marca de um milhão de cópias vendidas, para desespero dos puristas – ao lado dos trompetistas Clark Terry & Howard McGhee, dos tenoristas Coleman Hawkins & Zoot Sims? Não é alucinação, eles formavam a Newport House Band em 1963, e tocam “Undecided”. Sem indecisões.
Jams antológicas
E por falar em registros antológicos, não poderiam faltar os 14 minutos de tour-de-force de “Diminuendo in blue”, com a orquestra de Duke Ellington, que levou a platéia à loucura em 56, graças especialmente ao solo de Paul Gonsalves no tenor, tornando-se um marco tanto na carreira de Duke como na história de Newport. Outra bandaça, a de Count Basie, tendo o recém-falecido Illinois Jacquet como convidado, detona “One o’clock jump” (57), enquanto o alter-ego do Duque, Billy Strayhorn, ao piano, emociona através de uma de suas obras-primas, “Chelsea bridge”, lapidada pelo tenor de Ben Webster, com Oscar Pettiford no baixo. Para quem curte algo mais despojado, em clima de jam-session, Wein oferece “Avalon” com outra formação especial, Jazz at Carnegie Hall All-Stars, reunindo Joe Pass, Roy Eldridge, Al Grey, Eddie “Lockjaw” Davis, Keter Betts e Freddie Waits em 73. Tem também “Newport jump” com The Buck Clayton All-Stars, juntando o trompete do líder com o trombone de J.J. Johnson e o tenor de Coleman Hawkins na linha de frente.
Blues? O decano Muddy Waters nos brinda com “Tiger in your tank” (60), de outro ás do estilo, Willie Dixon, trazendo os não menos ilustres James Cotton (harmônica) e Otis Spann (piano) entre seus acompanhantes. Faixa gravada no dia (“um dos mais tristes da minha vida”, confessa Wein) de um grande tumulto que quase destruiu a reputação do Festival. Cantoras? Dinah Washington homenageia Bessie Smith, em 58, com “Back water blues” (Blue Mitchell, Melba Liston, Wynton Kelly e Max Roach, que há dois meses compareceu ao velório de Elvin Jones em cadeira de rodas, estão entre os sidemen), e Billie Holiday , em sua controvertida fase derradeira, apresenta uma performance pungente de “Lover, come back to me”, destacando Mal Waldron ao piano. Na seqüência, dose dupla de Ella Fitzgerald (73), em duas lindas baladas: “Good morning heartache” (um dos carros-chefes de Billie, a ponto de muitos acreditarem ser ela a autora da música), e “I’ve got a crush on you” (esta em duo com o pianista Ellis Larkins). Completando o CD2, outra deusa, Mahalia Jackson, exibe seu estilo incomparável na canção-manifesto “I’m goin’ to live the life I sing about my song”.
Raridades instrumentais
Logo na abertura do terceiro CD, uma ultra-preciosidade até então inédita: o iconoclasta Miles Davis tocando “’Round midnight” em 1955, assessorado por Gerry Mulligan (barítono), Zoot Sims (tenor), Percy Heath (baixo), Connie Kay (bateria) e ninguém menos que o próprio autor deste clássico, Thelonious Monk, ao piano. “Foi um dos momentos mais importantes na história do Festival”, testemunha Wein, “felizmente registrado pela equipe do programa de rádio A Voz da América. Miles nem estava programado para tocar naquele ano, mas nos encontramos num clube e ele disse: você não pode fazer um festival sem mim. Ao final do show, Miles sussurou no meu ouvido: diga a Monk que ele errou a harmonia. Eu respondi: fale você, ele é o autor da música...”.
A dupla de trombones mais famosa da história, J.J. Johnson & Kai Winding, dá uma aula sobre este instrumento em “Lover, come back to me” (56). Dizzy Gillespie, em momento de inebriante lirismo, reverencia o colega Clifford Brown – falecido em 1956, na provecta idade de 25 anos – através da homenagem que lhe fez Benny Golson em “I remember Clifford” (57), liderando uma big-band repleta de luminares, inclusive Lee Morgan na seção de trompetes e o autor Golson, no sax tenor.
Dave Brubeck, a atração mais freqüentes do Festival, é ouvido em 58 – fase pré-Take Five, portanto – num tema de Ellington, “Jump for joy”, comandando seu quarteto na época completado por Joe Benjamin (baixo), Joe Morello (bateria) e, claro, Paul Desmond, o sax-alto mais sensual – ao lado de Johnny Hodges – de todos os tempos. “Até hoje Brubeck ainda não teve sua obra compreendida da maneira devida”, comenta George no livreto. Um outro tipo de sensualidade envolve “Black coffee”, na voz de Sarah Vaughan (57), com sutilíssimo suporte de Jimmy Jones (piano), Richard Davis (baixo) e, novamente ele, Roy Haynes (bateria).
Miles Davis retorna em “Fran dance” (58), liderando outra formação inesquecível: o sexteto que tinha os saxes alto de Cannonball Adderley e tenor de John Coltrane, com Bill Evans ao piano, Paul Chambers (baixo) e Jimmy Cobb (bateria). Voltando à questão das armações inusitadas que o George Wein, de sorriso maroto, sempre adorou promover, temos o clarinetista Pee Wee Russell como convidado especial do quarteto de Thelonious Monk em um dos hinos do be-bop, “Blue Monk” (63), com Charlie Rouse no tenor, Buthch Warren no baixo e Frankie Dunlop na batera. Deu certo? Há controvérsias.
Coltrane, revelado (e depois substituído por Rouse) no grupo de Monk, antes de consagrar-se com Miles, marca presença como líder numa de suas músicas favoritas: o standard “My favorite things”, do qual fez inúmeras gravações espetaculares, seja em estúdio (talvez a melhor delas no cultuado “Africa brass”) ou ao vivo. Neste registro de 63, Roy Haynes substitui o baterista oficial do quarteto, Elvin Jones, com McCoy Tyner (piano) e Jimmy Garrison (baixo).
O filho de Garrison, o também baixista Matthew, atualmente toca com o camaleônico Herbie Hancock, que, em 76, revivia o quinteto de Miles (então em recesso) com Ron Carter (o baixista que odeia ser chamado de âncora), Tony Williams (bateria), Wayne Shorter (tenor) e Freddie Hubbard – no auge da carreira – no trompete. Sim, estamos falando do supergrupo VSOP, ouvido em “Maiden voyage”, talvez o tema mais famoso de Hancock, aqui dissecado ao longo de treze suntuosos minutos. Coisas de Newport.
Legendas:
“Brubeck, Basie e Ellington estão entre os astros que marcaram Newport” (capa do CD)
“Miles Davis: faixa inédita gravada em 1955” (foto de Miles)
No último dia 11, pontualmente às sete e meia da noite, quando Dave Brubeck tocou os primeiros acordes da cantata “The Gates of justice”, iniciavam-se as comemorações pelos 50 anos do célebre Festival de Jazz de Newport. Infelizemente, seu criador George Wein, 78 anos, não pôde assistir aos concertos; convalescendo de uma cirurgia, foi ao jantar de gala, mas retornou em seguida para sua casa em New York, por ordens médicas. Lamentava, principalmente, não ver o show do velho amigo Lee Konitz, que havia tocado na primeira edição do Festival, em 1954. Mas garantiu que ia passar o final de semana celebrando a data de uma outra maneira: ouvindo o CD-triplo “Happy Birthday Newport! 50 Swinging Years”, por ele mesmo compilado para a Sony/Legacy.
Encontros inusitados
“Jazz era uma palavra suja naquela época...”, escreve George Wein no início do texto do luxuoso livretro de 52 páginas, ilustrado por inúmeras fotos preciosas, que acompanha o CD-triplo “Happy Birthday Newport! 50 Swinging Years”, co-produzido por Wein, Michael Cuscuna e Robert Jones. “A sociedade americana era muito diferente em 1954, a segregação era parte da consciência nacional”, continua ele. “Newport simbolizava a opulência de um setor privilegiado da sociedade americana, era o último lugar onde imaginavam que pudesse acontecer um evento com músicos afro-americanos. Antes de 54 não haviam festivais de jazz nos EUA, ou eventos anuais de jazz em qualquer outro lugar do mundo. Cinqüenta anos depois, há centenas de festivais espalhados por cinco continentes, todos tratando os músicos de jazz de forma respeitosa, tanto culturalmente quanto financeiramente”.
Na seqüência, Mr. Wein comenta cada uma das 27 faixas selecionadas, começando, claro, por Louis Armastrong tocando (“Tin roof blues”) e cantando (“Mack the knife”) em 1956. Daquele mesmo ano, o tema tradicional “Bye an’ bye” aparece com o guitarrista Eddie Condon, da chamada “escola de Chicago”, seguido por “Echoes of spring” em duo de piano (Willie “The Lion” Smith, que ressuscitou artisticamente graças à Newport) & bateria (Jimmy Zintano) safra 58. O saltitante “Just you just me” surge num registro de 63, com a turma chamada de Newport All-Stars: o próprio George ao piano, Wendell Marshall (baixo), o até hoje ativo Roy Haynes (bateria), Ruby Braff (trompete) e Bud Freeman (“o tenorista com cabeça de matemático”, na definição de Wein).
Roy Haynes, aliás, em comovente entrevista à Joshua Redman publicada na última edição da revista Down Beat (agosto de 2004), ao ser perguntado “What is jazz?”, deu a seguinte resposta histórica: “Jazz? É apenas uma palavra. Da qual nunca gostei. Jazz é improvisação. Qualquer coisa pode ser jazz”. Se um Pat Metheny da vida viesse com essa resposta, os fascistas esnobes debochariam do rapaz, alegando faltar-lhe legitimidade para discorrer sobre o assunto. Mas, agora que Roy Haynes, por eles venerado e recém-alçado ao Hall of Fame da Down Beat, teve coragem de dar esse veredicto, o que os chatíssimos tradicionalistas irão alegar?
Voltando ao disco, “On the sunny side of the street”, mostra um timaço ainda mais fantástico, batizado de Newport International Jazz Band, juntando 19 músicos de diferentes nacionalidades (entre eles, o saudoso guitarrista húngaro Gabor Szabo, o trompetista iugoslavo Dusko Goykovich, o trombonista alemão Albert Mangelsdorff, o sax-barítono inglês Ronnie Ross até hoje barbarizando nos discos do grupo de new-bossa Matt Bianco, e o pianista suíço George Gruntz). Impossível algo mais inusitado? Bem, que tal Roy Haynes e o austríaco Joe Zawinul, que viria a revolucionar o jazz nos anos 70 na fase “Bitches Brew” de Miles Davis – atenção, atenção! este disco histórico acaba de alcançar a marca de um milhão de cópias vendidas, para desespero dos puristas – ao lado dos trompetistas Clark Terry & Howard McGhee, dos tenoristas Coleman Hawkins & Zoot Sims? Não é alucinação, eles formavam a Newport House Band em 1963, e tocam “Undecided”. Sem indecisões.
Jams antológicas
E por falar em registros antológicos, não poderiam faltar os 14 minutos de tour-de-force de “Diminuendo in blue”, com a orquestra de Duke Ellington, que levou a platéia à loucura em 56, graças especialmente ao solo de Paul Gonsalves no tenor, tornando-se um marco tanto na carreira de Duke como na história de Newport. Outra bandaça, a de Count Basie, tendo o recém-falecido Illinois Jacquet como convidado, detona “One o’clock jump” (57), enquanto o alter-ego do Duque, Billy Strayhorn, ao piano, emociona através de uma de suas obras-primas, “Chelsea bridge”, lapidada pelo tenor de Ben Webster, com Oscar Pettiford no baixo. Para quem curte algo mais despojado, em clima de jam-session, Wein oferece “Avalon” com outra formação especial, Jazz at Carnegie Hall All-Stars, reunindo Joe Pass, Roy Eldridge, Al Grey, Eddie “Lockjaw” Davis, Keter Betts e Freddie Waits em 73. Tem também “Newport jump” com The Buck Clayton All-Stars, juntando o trompete do líder com o trombone de J.J. Johnson e o tenor de Coleman Hawkins na linha de frente.
Blues? O decano Muddy Waters nos brinda com “Tiger in your tank” (60), de outro ás do estilo, Willie Dixon, trazendo os não menos ilustres James Cotton (harmônica) e Otis Spann (piano) entre seus acompanhantes. Faixa gravada no dia (“um dos mais tristes da minha vida”, confessa Wein) de um grande tumulto que quase destruiu a reputação do Festival. Cantoras? Dinah Washington homenageia Bessie Smith, em 58, com “Back water blues” (Blue Mitchell, Melba Liston, Wynton Kelly e Max Roach, que há dois meses compareceu ao velório de Elvin Jones em cadeira de rodas, estão entre os sidemen), e Billie Holiday , em sua controvertida fase derradeira, apresenta uma performance pungente de “Lover, come back to me”, destacando Mal Waldron ao piano. Na seqüência, dose dupla de Ella Fitzgerald (73), em duas lindas baladas: “Good morning heartache” (um dos carros-chefes de Billie, a ponto de muitos acreditarem ser ela a autora da música), e “I’ve got a crush on you” (esta em duo com o pianista Ellis Larkins). Completando o CD2, outra deusa, Mahalia Jackson, exibe seu estilo incomparável na canção-manifesto “I’m goin’ to live the life I sing about my song”.
Raridades instrumentais
Logo na abertura do terceiro CD, uma ultra-preciosidade até então inédita: o iconoclasta Miles Davis tocando “’Round midnight” em 1955, assessorado por Gerry Mulligan (barítono), Zoot Sims (tenor), Percy Heath (baixo), Connie Kay (bateria) e ninguém menos que o próprio autor deste clássico, Thelonious Monk, ao piano. “Foi um dos momentos mais importantes na história do Festival”, testemunha Wein, “felizmente registrado pela equipe do programa de rádio A Voz da América. Miles nem estava programado para tocar naquele ano, mas nos encontramos num clube e ele disse: você não pode fazer um festival sem mim. Ao final do show, Miles sussurou no meu ouvido: diga a Monk que ele errou a harmonia. Eu respondi: fale você, ele é o autor da música...”.
A dupla de trombones mais famosa da história, J.J. Johnson & Kai Winding, dá uma aula sobre este instrumento em “Lover, come back to me” (56). Dizzy Gillespie, em momento de inebriante lirismo, reverencia o colega Clifford Brown – falecido em 1956, na provecta idade de 25 anos – através da homenagem que lhe fez Benny Golson em “I remember Clifford” (57), liderando uma big-band repleta de luminares, inclusive Lee Morgan na seção de trompetes e o autor Golson, no sax tenor.
Dave Brubeck, a atração mais freqüentes do Festival, é ouvido em 58 – fase pré-Take Five, portanto – num tema de Ellington, “Jump for joy”, comandando seu quarteto na época completado por Joe Benjamin (baixo), Joe Morello (bateria) e, claro, Paul Desmond, o sax-alto mais sensual – ao lado de Johnny Hodges – de todos os tempos. “Até hoje Brubeck ainda não teve sua obra compreendida da maneira devida”, comenta George no livreto. Um outro tipo de sensualidade envolve “Black coffee”, na voz de Sarah Vaughan (57), com sutilíssimo suporte de Jimmy Jones (piano), Richard Davis (baixo) e, novamente ele, Roy Haynes (bateria).
Miles Davis retorna em “Fran dance” (58), liderando outra formação inesquecível: o sexteto que tinha os saxes alto de Cannonball Adderley e tenor de John Coltrane, com Bill Evans ao piano, Paul Chambers (baixo) e Jimmy Cobb (bateria). Voltando à questão das armações inusitadas que o George Wein, de sorriso maroto, sempre adorou promover, temos o clarinetista Pee Wee Russell como convidado especial do quarteto de Thelonious Monk em um dos hinos do be-bop, “Blue Monk” (63), com Charlie Rouse no tenor, Buthch Warren no baixo e Frankie Dunlop na batera. Deu certo? Há controvérsias.
Coltrane, revelado (e depois substituído por Rouse) no grupo de Monk, antes de consagrar-se com Miles, marca presença como líder numa de suas músicas favoritas: o standard “My favorite things”, do qual fez inúmeras gravações espetaculares, seja em estúdio (talvez a melhor delas no cultuado “Africa brass”) ou ao vivo. Neste registro de 63, Roy Haynes substitui o baterista oficial do quarteto, Elvin Jones, com McCoy Tyner (piano) e Jimmy Garrison (baixo).
O filho de Garrison, o também baixista Matthew, atualmente toca com o camaleônico Herbie Hancock, que, em 76, revivia o quinteto de Miles (então em recesso) com Ron Carter (o baixista que odeia ser chamado de âncora), Tony Williams (bateria), Wayne Shorter (tenor) e Freddie Hubbard – no auge da carreira – no trompete. Sim, estamos falando do supergrupo VSOP, ouvido em “Maiden voyage”, talvez o tema mais famoso de Hancock, aqui dissecado ao longo de treze suntuosos minutos. Coisas de Newport.
Legendas:
“Brubeck, Basie e Ellington estão entre os astros que marcaram Newport” (capa do CD)
“Miles Davis: faixa inédita gravada em 1955” (foto de Miles)
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