Tuesday, June 22, 2010

Anna Ly interviewed in the June issue of "Brazil com Z" magazine

http://www.revistabcz.com/noticias/?p=5167

Anna Ly - Em defesa da língua portuguesa
Por: Mariana Dornelles


Pelos palcos de Belo Horizonte, ela já tocou com o Samuel Rosa, do Skank, e com o grupo Jota Quest. Há dois anos em Barcelona, Anna Ly se divide entre shows, aulas de música e de português. Atualmente desenvolve o projeto História Cantada, uma peça infantil que conta às crianças a formação do português que falamos no Brasil.
Em 2006, gravou o cd de bossa nova chamado “What a Wonderful Bossa World”, com o Marcio Correa sob a produção de Arnaldo DeSouteiro. Sua opinião sobre o cenário musical em seu entorno: “Barcelona ficou famosa pela liberdade, inclusive para os músicos. Mas agora está havendo muito controle policial. Se você tocar em zona proibida ou sem a permissão legal, a polícia tem o direito de te mandar embora, pegar o instrumento e cobrar uma multa para você recuperá-lo.”
E seus planos para o futuro? “Meu sonho, quando ficar velhinha, é tocar em um piano-bar, tranquila, sem ninguém prestando muita atenção”. (risos)

BCZ – Anna Ly, qual é a sua formação artística?
AL – Eu tenho uma formação muito variada, em dança, teatro e música. Em música especificamente, tive uma formação clássica em piano, que estudei desde criança. Depois comecei a trabalhar com música popular, rock, MPB e jazz e tocando baixo. Atualmente, para o tipo de trabalho que faço em Barcelona, me dedico mais ao violão. Como aqui não há tantas opções de violonistas como no Brasil tive que desenvolver esse lado, que antes era restrito ao ambiente doméstico. Mas comecei a tocar e acabei tomando gosto e ficando mais independente. Antes eu tocava sempre acompanhada, mas aqui estou fazendo uma coisa inédita na minha vida: trabalhar sozinha.

BCZ – Antes de morar em Barcelona, você tinha vivido em outra cidade da Europa? O que a motivou a vir pra cá?
AL – Não morei em nenhum lugar da Europa antes, vim direto para cá. E foi por amor. Conheci pela internet um grande músico brasileiro chamado Danilo Pinheiro, que vive aqui há 20 anos, e acabei topando vir. Ficamos casados durante um ano, mas depois cada um seguiu sua vida.

BCZ – Em 2007, você lançou o projeto “Desenrolando a língua”, um livro-CD que explica para as crianças a formação do português que falamos no Brasil. Como surgiu esse projeto?
AL – A ideia do livro surgiu a partir de um professor de latim, para quem eu dava aula de teclado. Ele me ofereceu aulas de latim e eu aceitei. Ele se surpreendeu: “Você tem certeza? Porque ninguém quer, nem de graça!”. E eu disse: “Eu quero sim!”. E ele era muito idealista e via a importância do latim. Contou-me a história da língua portuguesa e acabou me “contaminando”. Nós elaboramos juntos vários projetos para tentar trazer o latim de volta às escolas, mas nunca deu certo. Mas aí eu me perguntei: e a influência do tupi-guarani? E das línguas africanas, já que há tantos negros no Brasil? Assim surgiu a ideia de começar esse projeto.

BCZ – Em sua opinião, qual é o diferencial do “Desenrolando a língua”?
AL – Eu acho interessante porque, mesmo não tendo base acadêmica na área de línguas, eu ousei falar de um tema polêmico, que só é tratado por linguistas e gramáticos. Consegui contar para as crianças e para qualquer mortal as diferentes origens da nossa língua, por meio de uma personagem infantil – que também suaviza o peso da responsabilidade do discurso. Acabei popularizando um tema muito importante porque a contribuição indígena, africana e de outros povos para a formação da nossa língua é fundamental, mas muitas vezes não é tão citada, nem mesmo nas escolas. Eu mesma nunca tinha ouvido falar disso nas minhas aulas. E quando eu descobri, para mim foi uma surpresa e eu falei: “Que legal! Eu quero contar para todo mundo!”

BCZ – Como foi a distribuição desse livro? Ainda há exemplares disponíveis?
AL – Na primeira edição, eu fiz 1400 cópias. Fiz uma sessão de autógrafos e deixei vários exemplares com o Marcos Vianna, que tem uma distribuidora. O resto eu fui vendendo pouco a pouco e agora temos pouquíssimos exemplares. Mas, junto com a minha agente literária Andréia Moroni, conseguimos uma nova editora no Brasil, que publicará a segunda edição ainda este ano. É uma editora grande e é provável que consiga distribuir o livro no país inteiro, inclusive em escolas e bibliotecas.

BCZ – A peça História Cantada é fruto de um projeto realizado junto com a “Fundación Cultural Hispano Brasileña”. Como surgiu essa parceria?
AL – Solicitei o financiamento de outro projeto para a Fundação, mas eles não puderam ajudar por completo, e sugeriram a elaboração da peça História Cantada, para contar às crianças brasileiras e espanholas a história do livro Desenrolando a língua. Então eu e a Andréia Moroni, que é a roteirista e diretora da peça, montamos o espetáculo. Já fizemos quatro apresentações, em Barcelona e em Madri. E eu estou super empolgada, porque estou sentindo que a recepção das pessoas é legal. Então a ideia é continuar apresentando em escolas, continuar seguindo com o projeto, porque já está pronto, é só distribuir.

BCZ – Você já havia trabalhado com crianças anteriormente?
AL – Eu fiz metade do curso de música na universidade, justamente toda a parte de licenciatura, que é necessária para dar aulas. E estudei dentro de uma organização infantil da escola de música da Universidade Federal de Minas Gerais e fiz um estágio com as crianças, que incluía pesquisa, não era só dar aula. Acabei ficando nesse estágio durante 10 anos! Eu adorava e lá eu aprendi muita coisa: pedagogia, metodologia, etc.

BCZ – Ao longo da sua carreira, você também já gravou alguns CDs. Qual é o público da sua música?
AL – Eu fiz um CD de bossa nova em 2006 com o Marcio Correa, chamado “What a Wonderful Bossa World”. O produtor desse CD é o Arnaldo DeSouteiro, que trabalha com o João Gilberto e já trabalhou com a Diana Krall. Ele viaja com esses artistas pelo mundo inteiro e para todo lugar que ele vai, ele leva o meu CD. Então, as minhas músicas tocam nas rádios do Japão, nos Estados Unidos… Além de sair em várias páginas na internet. Aqui em Barcelona eu já vendi para pessoas de 60 países diferentes, porque eu sempre pergunto para as pessoas que compram de onde elas são e vou fazendo uma listinha, para saber para onde o meu CD está indo.
BCZ – Como é trabalhar com música em Barcelona?
AL – As pessoas me perguntam se eu vivo de música. Eu vivo, mas dando aula de violão, de baixo, de piano, de música para criança e de português. Mas uma coisa é verdade: no Brasil eu trabalhava 10 vezes mais do que aqui e vivia sempre endividada. E em dois anos eu já paguei todas as minhas dívidas e consegui comprar o mesmo equipamento que eu levei 20 anos para comprar no Brasil. Comprei até um piano elétrico, que antes eu não tinha. E ainda por cima me sobra tempo para estudar piano, coisa que no Brasil era difícil.

BCZ – Como você avalia a situação dos músicos em Barcelona?
AL – Acho que Barcelona ficou famosa pela liberdade, inclusive para os músicos. Mas agora ela está perdendo isso, está havendo muito controle policial, principalmente em parques e outros lugares públicos. Se você tocar em zona proibida ou usar amplificador ou percussão sem a permissão legal, a polícia tem o direito de te mandar embora, pegar o instrumento e cobrar uma multa para você recuperá-lo. E ainda tem o problema dos ambulantes, porque a polícia fica querendo controlar essas vendas e os músicos acabam entrando na mesma história. A pena é que a música atrai muito turismo para cidade, marca a viagem das pessoas. Mas agora eles estão cortando tudo.

BCZ – Você tem planos de voltar para o Brasil?
AL – Agora não, porque já estou mais ou menos estabilizada e profissionalmente não tenho muita coisa para fazer no Brasil, a não ser o lançamento da segunda edição do livro, ainda este ano. Além do mais, estou bem mais tranquila. No início, estava deslumbrada, depois veio a decepção, mas agora estou bem. Antes eu falava que o Brasil era diferente… Mas, sabe, tem gente legal em todo lugar do mundo, coisa legal em todo lugar do mundo. Essa coisa de nacionalismos, de ficar separando… Eu já estou em outra fase!

BCZ – Quais são os projetos profissionais futuros?
AL – Na verdade o meu sonho mesmo, quando ficar velhinha, é tocar em um piano-bar, tranquila, sem ninguém prestando muita atenção (risos). Mas enquanto isso eu estou torcendo para entrar numa big band tocando contrabaixo!

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