Friday, June 8, 2007

Deu hoje no JB! Brubeck & Gazzara


Nota publicada hoje, 8 de Junho de 2007, na coluna "Supersônicas", do craque Tárik de Souza, no "Jornal do Brasil" :

"PARCEIRO do jazzista Dave Brubeck em Broadway Bossa Nova, o jornalista e produtor Arnaldo DeSouteiro compôs O Passarinho para o novo CD Brother and sister, da banda ítalo-inglesa Gazzara"

Então, antes que os puristas dipluros, eternos chatos de plantão, comecem a entupir meu correio eletrônico com as costumeiras mensagens rancorosas, vou logo dar mais detalhes para ver se, assim, eles passam mal e morrem logo de inveja.

Tárik, sempre bem informado, sabe da minha amizade de mais de trinta anos com Dave Brubeck. Aliás, com toda a família Brubeck, que conheci pessoalmente em fins dos anos 70, quando vieram ao Rio para um célebre concerto no Salão Leopoldo Miguez da Escola de Música (com o grupo batizado Two Generations of Brubeck e o lendário Paulo Santos servindo de mestre-de-cerimónias, chamando Dave ao palco com a sua famosa frase "...e agora, sem mais delongas..."). No ano seguinte, entrevistei o patriarca para o jornal "Tribuna da Imprensa". E muito antes disso tudo, antes da minha paixão pelo jazz-rock e pelo fusion de Miles, Return to Forever, Weather Report e a turma da CTI no início dos anos 70, eu crescera ouvindo "Time Out", ficando fascinado com o trabalho de Brubeck por conta dos andamentos pouco usuais e do estilo pianístico inigualável. E, claro, também devido à sonoridade "dry martini" do sax-alto de Paul Desmond.

Mais tarde, estreitei relações com Darius Brubeck (Director of Jazz Studies na Natal University em Durban, África do Sul), quando participamos de "panel sessions" durante a décima-nona Conferência Anual da IAJE, em Miami, nos idos de 1992.
(Além dos discos com o pai, Darius gravou alguns excelentes álbuns como líder, dentre os quais recomendo particularmente "Gathering Forces II", que tem a participação de Airto Moreira. No mesmo ano - 1994 - e pelo mesmo selo B&W, o caçula Matthew Brubcek, exímio violoncelista, lançou "Giraffes in a Hurry", em duo com o violonista David Whitlock, que deixou Luiz Bonfá muito bem impressionado).

Voltando à história da minha primeira parceria com Dave: ocorreu em 1996, quando eu me preparava para viajar a Tokyo, onde viria a produzir um disco de Ithamara Koorax gravado apenas com jazzmen japoneses. A idéia era fazer um álbum de bossa-nova, mas eu queria, juntamente com os hits inevitáveis, incluir alguns temas menos conhecidos. Pensei logo em "Broadway Bossa Nova", tema de Brubeck que eu conhecera através do LP "Jazz Impressions of New York", feito para a Columbia em 1964. E que eu redescobrira quando foi regravado pelo Azymuth, em 1987, no disco "Crazy Rhythm", com o título erroneamente mudado para "Bossa Nova USA", nome de uma outra criação Brubeckiana e faixa-título de outro álbum para a Columbia.

Pois bem: liguei para Brubeck e perguntei se a música ("Broadway Bossa Nova") tinha letra, porque muito desejava que a Ithamara a gravasse. Não tinha. Mas, com a rápida objetividade dos sábios, Dave me sugeriu que eu mesmo escrevesse a letra. Argumentei que nunca havia escrito uma letra em inglês. Ele replicou: "faça no seu idioma porque eu sempre sonhei em ouvir uma música minha cantada em português. Ainda mais pela Ithamara!" (Brubeck conhecia os três CDs que ela havia gravado até então e foi um dos primeiros músicos americanos a referendar o trabalho dela nos EUA). Diante da tentação, não resisti. Depois de alguns esboços, pedi ajuda a Paulo Malaguti, que trabalhava com Ithamara naquela época, como tecladista, mas volta e meia aprontava algumas letras interessantíssimas, sem clichês. Paulo não conhecia a música mas lhe entreguei uma fita cassete com o tema, os papéis com as minhas idéias e, acho que em menos de uma semana, tínhamos a letra pronta.

O passo seguinte foi enviar a letra, com uma tradução literal, para Brubeck, com cópias para seu empresário e para o administrador de sua editora. Em dez dias, Malaguti e eu já estávamos assinando o contrato com a Derry Music. Mais cinco e eu já estava no Japão, em setembro de 1996, gravando o disco de Ithamara que inaugurou o novo estúdio digital da King Records, companhia da Sanyo Corporation. O arranjo da faixa coube a Ikuo Kataoka, incluindo excelente solo de Tomonao Hara, então o mais baladado trompetista de jazz no Japão, superando Terumasa Hino nas votações da revista Swing Journal.

Retornei a Tokyo, sozinho, para mixar o disco em janeiro de 1997. "Broadway Bossa Nova" saiu em single, entrou em várias compilações e fez tanto sucesso que decidimos fazer uma nova versão, em março de 1998, para o disco seguinte de Ithamara: "Bossa Nova Meets Drum 'N' Bass" - um projeto adiante de seu tempo, que muita gente não entendeu. No Brasil, ninguém sabia o que era "drum 'n' bass". Tanto que, quatro anos depois, Fernanda Porto foi saudada como pioneira... Algo típico do Brasil... Mas o que interessa é que a segunda versão de "Broadway Bossa Nova" ficou ótima, mais ousada que a primeira, e ainda ganhou um remix hi-hop bem "pancadão". Ficamos até receosos de mostrar para Brubeck, mas ele adorou! "Nunca soei tão moderno!", disse ele às gargalhadas, pedindo licença para desligar o telefone porque precisava mostrar logo para os filhos que estavam passando o final de semana com ele, em Connecticut.

A amizade e a parceria com Dave renderam outros frutos (entre eles a letra para "Unisphere", feita por sua esposa Iola, em 2000, especialmente para Ithamara e finalmente gravada no CD "Autumn in New York", de 2004).

Sobre a composição "O Passarinho", cuja letra foi encomendada para o novo CD da banda de acid-jazz Gazzara, postarei detalhes em seguida. Mas posso adiantar que a faixa, que eu também co-produzi, já é sucesso no cenário europeu de dancefloor jazz. A ponto de DJs como o badalado Tom Novy estarem preparando remixes que irão balançar Ibiza e outros points.

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