Sunday, January 31, 2021

Leandro Bertolo: "A Flor do Som" - Liner notes by Arnaldo DeSouteiro

Quem diria que, no catastrófico ano de 2020, eu retomaria minha esperança na linha evolutiva da MPB? Pois bem, devo isso a este preciso & precioso novo disco de Leandro Bertolo, “A Flor do Som”. Lépido e fagueiro, rico em conteúdo e forma. Um passeio pelas trilhas mais férteis da nossa música. Canções sedutoras de um melodista nato, de romantismo inebriante mas nada piegas. Enredos que se desenrolam com sabedoria. Composições fascinantes, unificadas pelo bom gosto estético, envoltas por belos arranjos e desempenhos instrumentais de extrema finesse. 

Consagrado “músico da noite” em Porto Alegre, chega ao segundo álbum investindo em um trabalho autoral. Influenciado por compositores/cantores consagrados nos anos 1970 – notadamente Djavan, João Bosco e Gonzaguinha –, Bertolo passa longe da imitação. Apenas parte da admiração pelos citados para alçar seus próprios vôos, desenvolvidos com leveza, ginga e sutileza.

O dom de hitmaker fica logo evidente na faixa-título, “A Flor do Som”, ensolarada parceria com a esposa Bianca Marini. “Estávamos em Gramado, conversando”, conta. “Bianca trouxe um pequeno vaso de acrílico em forma de flor, e colocou dentro o celular conectado a um aplicativo. Na variada playlist estava tocando Mozart naquele momento. Ela disse que aquilo era ‘a flor do som’. Eu apenas complementei: ‘a flor do som é Mozart’, e assim nasceu nosso primeiro pop-jazz Djavaneado”!

Partidário da alegria, Bertolo passeia por samba (o sinuoso “Momentos Felizes” e o arrebatador “Canto Forte”, ambos predestinados ao sucesso), afoxé (“Rotas do Sonhar”), bolero (“Náufragos de Amar”, “Te Espero Na Canção”), choro-seresta (“Darcy Alves”, tributo ao cultuado músico gaúcho) e balada (“Adormecido Coração”), respeitando as tradições sem pregar o conservadorismo. Por isso mesmo soa naturalmente contemporâneo sem deslizar para o modernoso. Arrisca até um singular bolero-salsa (“Armadilha”), revive a MPB-pop oitentista em dueto com a bela musa Bianca (“Luz do Amor”) e mergulha no contagiante frevo-axé baiano (“ATKI”) com segurança de veterano.

Ritmicamente envolvente e repleto de nuances, conduzido pelo canto macio de Bertolo, “A Flor do Som” é um disco de alto astral, de boas vibrações, sem dramas. Fiel retrato da alma desse artista sempre tão positivamente emocional e emotivo, que privilegia a felicidade nas temáticas de seus versos. Uma pessoa grata à vida, que retribui isso irradiando alegria através de suas criações. Um som divino, movido pela mágica estrela da canção. Quem diria que, logo nesse tenebroso 2020, eu retomaria minha esperança na linha evolutiva da MPB?

Arnaldo DeSouteiro, Dezembro de 2020 
(Jornalista, produtor musical, diretor de shows, roteirista, membro votante do Grammy-NARAS).

                                                                     Capa do single
                                                                        Capa do álbum




















Previous album: "Clareza"

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