Monday, September 17, 2007

"João Gilberto Prado Pereira de Oliveira" - Review

Anexo
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João Gilberto, quem diria, ao vivo
CD apresenta incorreções técnicas, mas vale pelo talento do criador da bossa nova
Mauro Dias
Agência Estado

Quase 20 anos depois de lançado, elepê há muito esgotado nas prateleiras, chega ao CD o disco "João Gilberto Prado Pereira de Oliveira". A edição digital é da WEA, gravadora responsável pela versão analógica original, de 1980. Como o CD permite mais tempo de música, quatro títulos foram acrescentados aos nove do repertório do elepê.

"João Gilberto Prado Pereira de Oliveira" foi o oitavo disco da carreira, iniciada em 1959, do criador da bossa nova. O trabalho anterior ("Amoroso", considerado sua obra-prima) é de 1976. João Gilberto nunca deu muita bola para as formalidades do mercado e só grava quando bem entende. Convencê-lo a fazer este CD exigiu longa negociação.

João acabou concordando com o pacote: um programa especial para a TV Globo e um disco, com parte do repertório do show. Fez questão de duas convidadas especiais, no show e no disco: a filha Bebel Gilberto e, surpresa, a cantora Rita Lee, para dividir com ele os vocais de "Joujoux et Balangandans", de Lamartine Babo. Observação: o título, no CD, vai grafado "Jou Jou Balangandans". Um erro grosseiro, incompreensível.

Também está errado o informativo da gravadora que dá o disco como registrado em 1990. Nesse ano João Gilberto fez, mesmo, outra das raras aparições na televisão, para gravar outro programa especial, dessa vez ao lado de Tom Jobim, como o anterior para a TV Globo, só que gravado no Teatro Municipal do Rio.

"João Gilberto Prado Pereira de Oliveira" foi gravado no Teatro Fênix, que pertence à Globo. Os 500 lugares da platéia foram disputados por colunáveis e artistas. Prevaleceram estes: cineastas (Arnaldo Jabor, Bruno Barreto), compositores e cantores (Caetano Veloso, Ivan Lins, Moraes Moreira), atrizes (Norma Bengell, Marília Pêra), os poucos felizes de um vasto universo. No auge do poder, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, supervisor-geral da emissora de TV, dignava-se, pela primeira vez, a prestigiar, do meio do público, uma gravação.

Daniel Filho assinou a direção-geral do show, mas, para que prevaleça a verdade, convém contar que Daniel não apareceu nos dois ensaios do espetáculo. Surgiu no palco cinco minutos antes do início da gravação, perguntou se tudo estava bem e mandou seguir. Não é responsável pelo que houve de bom ali ­ e não seria responsável pelo caos que muita gente temia: João viria? João não viria?

Guto Graça Mello assumiu a direção musical; Guto, Dori Gaymmi, João Donato e Lindolfo Gaia, os arranjos orquestrais das quatro faixas que foram acrescentadas ao CD. E aqui cabe outra história, pouco contada: os arranjos deveriam ter sido escritos por Claus Ogerman, aquele que assina os orquestrais de boa parte das gravações de Tom Jobim. Às vésperas da gravação, entretanto, nada das partituras de Ogerman.

A altíssima cúpula da TV Globo reuniu-se, pensando em cancelar o programa especial. Ninguém conseguia entrar em contato com o maestro norueguês (volta e meia ele é dito alemão, mas Tom Jobim referia-se a Ogerman como "aquele louco norueguês"), que havia sido escolhido pelo próprio João Gilberto. Quando o cancelamento já estava quase certo, entrou na sala o maestro e violonista Waltel Blanco.

Vendo as expressões constrangidas dos reunidos, Waltel quis saber o que acontecia. Explicaram-lhe. Waltel perguntou: "É para quando?" Boni respondeu: "Para amanhã". O músico fez pouco caso do prazo exíguo: "Pode marcar a gravação". No dia seguinte, as partituras estavam na Globo. O nome de Waltel não aparece nos créditos do disco. O informativo da gravadora tributa a Claus Ogerman os arranjos que ele nunca escreveu.

Houve atraso para o início do espetáculo. Setenta minutos depois da hora marcada, João apareceu. Começou por cantar "Aquarela do Brasil", de Ari Barroso, seguindo com "Menino do Rio", de Caetano Veloso. No disco, as músicas foram reordenadas. A primeira faixa é "Menino do Rio". Antes dela, palmas, palmas, palmas.

Bolas, quem compra o disco sabe que é gravado ao vivo. As palmas, no início e fim de cada música, são desnecessárias. Há mais de meio minuto de palmas, antes e depois de João cantar "Menino do Rio". Para quê? Ninguém terá a ilusão de estar no teatro só porque ouve, nas caixas acústicas, palmas de 20 anos atrás.

As faixas do elepê original foram remixadas digitalmente na Cia. do Áudio e o próprio João, com a colaboração do produtor Arnaldo DeSouteiro, produziu as quatro faixas adicionadas ao CD: a citada "Aquarela do Brasil", "Bahia com Agá", de Dênis Brean, "Tim Tim por Tim Tim", de Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques, e a canção italiana "Estate", de Bruno Martino e Bruno Brighetti. O som desta última, por algum motivo, é muito ruim. A voz de João soa áspera. Em "Tim Tim por Tim Tim", por baixo da música incomoda um ruído contínuo, agudo, como o de uma fita velha rodando.

Mas são novidades na voz de João Gilberto. Portanto, são importantes. Ainda assim, o melhor do CD é o que já estava no elepê. A desconstrução do "Retrato em Branco-e-Preto", a surpreendente e jovial presença de Rita Lee em "Joujoux et Balangandans", a estréia de Bebel Gilberto, nervosíssima, afinadíssima, aos 13 anos, cantando "Chega de Saudade".

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Correção: os arranjos das músicas "Estate", "Tim-Tim Por Tim-Tim", "Wave" e "'S Wonderful" (estas duas últimas gravadas mas não incluidas no CD) são de autoria de Claus Ogerman. O Maestro Waltel Branco fez as transcrições a partir das gravações do LP "Amoroso".

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