Friday, August 31, 2007

"Fantasy 2-Bit Digipack" - Flashpoint

http://www.flashpoint.com.br/mjazz.html

O MELHOR DO JAZZ

FANTASY 20-Bit DIGIPACK – The Men With The Horn por Arnaldo DeSouteiro

Esta nova safra de jazz do catálogo da Fantasy Records, licenciado para o Brasil com exclusividade pela BMG, enfoca alguns dos maiores saxofonistas e trompetistas de todos os tempos! Donos de estilos e sonoridades inconfundíveis, até hoje continuam influenciando músicos nos quatro cantos do planeta e arrebatando milhares de admiradores.

Com seu sax-alto voluptuoso, Cannonball Adderley (1928-1975) aparece em dois álbuns que transcendem o padrão “soul-jazz” pelo qual ganhou fama. “Know What I Mean?” (61) capta seu inusitado encontro com o genial pianista Bill Evans, enquanto “Things Are Getting Better” (58) registra a ebuliente união com o maior mestre do vibrafone, Milt Jackson. Em matéria de sax-tenor, os vulcânicos John Coltrane (1926-1967) e Sonny Rollins (1930-) são unanimidades incontestáveis. O primeiro brilha em duas sessões de 1957: “Coltrane”, com participação do pianista Mal Waldron, e “Traneing In”, acompanhado pelo trio de outra fera do teclado, Red Garland. Uma lenda viva do jazz, Rollins humilha os menos dotados em dois discos de 1956: “Tenor Madness”, trazendo ninguém menos que Coltrane como convidado especial, e “Plus 4”, reforçado pelas presenças de Clifford Brown & Max Roach.

Astros de ainda maior popularidade, os trompetistas Chet Baker (1919-1988) e Miles Davis (1926-1991) estão representados por trabalhos de grande impacto. Chet - “o James Dean do jazz” - exibe seu lirismo também como vocalista em “Chet Baker with Fifty Italian Strings” (59), repleto de standards, trocando o trompete pelo flugelhorn em “Comin’ On with The Chet Baker Quintet” (65). Quanto a Miles, mostra-se no auge da forma em duas aulas de be-bop: “Steamin’ with Then Miles Davis Quintet” (56), dividindo a linha de frente com John Coltrane, e “Walkin’” (54), destacando J.J. Johnson, Horace Silver e Kenny Clarke.

FANTASY 20-Bit DIGIPACK – The Men With The Horn

Cannonball Adderley with Milt Jackson: “Things Are Getting Better”

Pouco antes de idealizar, ao lado do irmão Nat, o quinteto que consagraria o estilo batizado de “soul-jazz” ou “funky-jazz”, Cannonball Adderley acatou a sugestão do produtor Orrin Keepnews para gravar, em 28 de outubro de 1958, um álbum com o endiabrado vibrafonista Milt Jackson. Na base, Orrin juntou Wynton Kelly (piano), Percy Heath (baixo) e Art Blakey (bateria), que estimulam a dupla a inspirados passeios por “Groovin’ High” (clássico do be-bop), “Just One of Those Things” (standard de Cole Porter) e “The Sidewalks of New York”, a faixa mais tocada nas rádios, e posteriormente regravada por Cannon no LP-duplo “Phenix” em 75.

Cannonball Adderley with Bill Evans: “Know What I Mean?”

Novamente por sugestão de Orrin Keepnews, dono do selo Riverside, Cannonball prazerosamente aceitou formar, em janeiro de1961, inusitada dobradinha com Bill Evans. Curiosamente, Orrin decidiu não usar a fulgurante seção rítmica do saxofonista nem os músicos do reflexivo trio do pianista. Para surpresa geral, chamou o baixista Percy Heath e o batera Connie Kay, integrantes do Modern Jazz Quartet. O resultado superou as mais otimistas expectativas, como provam as notáveis performances nas baladas “Nancy with The Laughing Face” e “Goodbye” (ambas imortalizadas por Sinatra). Além de “Waltz for Debby”, ouvida em uma de suas mais criativas versões, Bill contribuiu como autor também da faixa-título, uma instigante balada modal.

“Chet Baker with Fifty Italian Strings”

Talvez o mais romântico dos discos de Chet Baker, este “all-ballad album” despertou a ira dos puristas por trazer uma orquestra de cordas – além de harpa, flugelhorns e até uma delicada celesta - emoldurando o trompete mais lírico da história do jazz. Atuando também como vocalista em metade das faixas (“The Song is You”, When I Fall in Love”, “Angel Eyes”, “Street of Dreams” e a canção que deu título à recente biografia escrita por James Gavin, “Deep in a Dream”), Chet gravou o disco em Milão, na Itália, em 28 de setembro e 5 de outubro de 1959. Na parte instrumental, merecem destaque “Autumn in New York” e “Violets for Your Furs”. Vale citar a presença, no naipe de saxofones, do músico Fausto Papetti, que viria a gravar discos “pop” de grande vendagem nos anos 60 e 70.

“Comin’ On with The Chet Baker Quintet”

De volta aos EUA após conturbados seis anos de auto-exílio na Europa, Chet Baker gravou nada menos que cinco discos para o empresário-carrasco Richard Carpenter em apenas três dias (23, 24 e 25 de agosto) de 1965, quando havia provisoriamente trocado o trompete pelo flugelhorn, de sonoridade mais aveludada. Todas as fitas foram negociadas com o selo Prestige, mas Carpenter jamais pagou um centavo à Chet! Em ótima forma, lidera um quinteto completado por George Coleman (sax tenor), Kirk Lightsey (piano), Herman Wright (baixo) e Roy Brooks (bateria). No cardápio, despontam “Choose Now” (do genial arranjador Tadd Dameron, um dos artífices menos badalados do be-bop) e a fantástica “Stairway to The Stars”. Famoso por comprar a autoria de músicas (entre elas a célebre “Walkin’”, gravada por Miles) compostas por jazzmen em dificuldades financeiras, Richard Carpenter “assina” três temas: “Chabootie”, “Carpsie’s Groove” e “Comin’ On”, na verdade compostos no estúdio por Jimmy Mundy.

John Coltrane: “Coltrane”

Álbum de estréia de Coltrane como líder no selo Prestige, marcou o início de uma nova etapa na brilhante e curta carreira do tenorista. Fruto de uma única sessão em New York, em 31 de maio de 1957, incorporando benefícios das associações com Thelonious Monk e Miles Davis, abriga seis faixas irretocáveis. Mal Waldron (então “sideman” de Billie Holiday) e Red Garland (colega de Coltrane no quinteto de Miles) revezam ao piano, com Paul Chambers no baixo e Albert “Tootie” Heath na bateria. Vale destacar a pungente balada “Violets for Your Furs” e a impactante “Bakai”, reforçada por John Splawn (trompete) e Sahib Shihab (sax barítono). Maiores detalhes no excelente texto de Ira Gitler, reproduzido no encarte.

John Coltrane with The Red Garland Trio: “Traneing In”

Coltrane voltou ao estúdio do engenheiro de som Rudy Van Gelder pouco depois, em 23 de agosto de 1957, novamente sob a supervisão de Bob Weinstock (fundador do selo Prestige), mas desta vez com o trio do classudo pianista Red Garland atuando em todas as faixas. No baixo, o infalível Paul Chambers. Na bateria, o competente Art Taylor. Contemplado com quatro estrelas pela revista Down Beat, a “bíblia do jazz”, inclui memoráveis recriações de “You Leave Me Breathless” e “Soft Lights And Sweet Music”, escrita por Irving Berlin para o musical “Face The Music”.

Miles Davis All-Stars: “Walkin’”

Segundo depoimento recente de Bob Weinstock para o DVD “The Miles Davis Story”, “Walkin’” é o melhor disco de todo o catálogo do selo Prestige. Gravado em abril de 1954, conta com Horace Silver (piano), Percy Heath (baixo), Kenny Clarke (bateria) e o hoje esquecido Davey Schildkraut (sax-alto presente na série de discos “Kenton Showcase”, do band-leader Stan Kenton) auxiliando Miles a perpetuar leituras insuperáveis de seu instigante tema “Solar” (com arrepiante solo de Silver), do standard “Love Me or Leave Me” e da soberba balada “You Don’t Know What Love Is”. Em duas faixas – “Blue ‘n’ Boogie” e o famoso blues de 12 compassos batizado “Walkin’” – o grupo vira sexteto com as adesões do trombonista J.J. Johnson (fazendo uma antológica citação de “Rhythm-A-Ning” durante o solo em “Blue ‘n’ Boogie”) e do tenorista Lucky Thompson.

“Relaxin’ with The Miles Davis Quintet”

Outra obra-prima de Miles na fase Prestige, captada em 26 de outubro de 1956. Ao lado de John Coltrane (sax tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo) e Philly Joe Jones (bateria), o trompetista sai logo arrasando numa esplêndida versão de “If I Were A Bell”, tema da peça “Guys and Dolls”, e que fez parte de seu repertório durante anos. “You’re My Everything” e “Oleo” são exemplos do abismante nível de troca de idéias entre Miles e Coltrane, em entrosamento telepático. Os meninos passeiam ainda por standards das duplas Rodgers & Hart (“I Could Write a Book”) e Burke & Van Heusen (“It Could Happen To You”), além de “Woody’n You”, clássico do bop caneteado por Dizzy Gillespie.

Sonny Rollins: “Plus 4”

Exemplo indiscutível da camaradagem que rolava entre os mestres do be-bop, foi gravado no tempo em que o tenorista Sonny Rollins pertencia ao célebre Clifford Brown/Max Roach Quintet, completado por Richie Powell (piano) e George Morrow (bateria). No maior astral, os patrões aceitaram trocar de posição nesta sessão documentada em 22 de março de 1956, com Rollins assumindo o papel de líder. Nem por isso, entretanto, Brown ou Roach tocaram com menos “stamina” – muito ao contrário. Em uma de suas últimas gravações (morreria três meses depois, aos 25 anos, em um acidente de carro que vitimou Richie Powell), Brown barbariza o tempo inteiro, mostrando porque já era considerado um dos melhores trompetistas do bop, tendo influenciado nomes como Lee Morgan e Freddie Hubbard. O batera Roach não deixa por menos, estimulando os solistas a vôos ousados em “Kiss and Run”, “Valse Hot” e “Pent-Up House”.

Sonny Rollins: “Tenor Madness”

Sonny Rollins e John Coltrane juntos no mesmo disco? Parecia um sonho, mas tornou-se realidade em 24 de maio de 1956, quando os dois titãs do sax-tenor se uniram neste petardo, com a “cama” feita por Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo) e Philly Joe Jones (bateria), ou seja, a seção rítmica do Miles Davis Quintet, tão solicitada por outros artistas. Bastariam os alucinantes 12 minutos da faixa-título, “Tenor Madness”, para satisfazer os fãs dos tenoristas, mas o disco guarda vários momentos igualmente memoráveis. Jóias como “When Your Love Has Gone”, a maravilhosa recriação de “The Most Beautiful Girl in The World” (de Richard Rodgers) e a adaptação de Larry Clinton para “Reverie”, de Claude Debussy. Em 1975, no álbum “Nucleus” (Milestone), Rollins viria a regravar a famosa melodia do criador do impressionismo, pelo qual sempre foi apaixonado.

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