Wednesday, April 6, 2011

"Introspection" - Luiz Bonfa's solo guitar masterpiece reissued on digipak CD

Highly regarded as one of the most beautiful and important solo guitar albums in the history of music, Luiz Bonfa's "Introspection" was originally recorded in NY, back in 1972, when Bonfa was a member of the North-American RCA roster. The vinyl LP never came out on his native Brazil, though, and it appeared on CD for the first time in an unauthorized private pressing. Later on, Arnaldo DeSouteiro convinced the A&R men at BMG to produce the first official CD reissue, as well as its first Brazilian release, as part of the "RCA 100 Anos de Música" series issued in 2001. Now, "Introspection" becomes once again available in a limited edition of 1,000 copies on digipak CD format, produced by Arnaldo DeSouteiro for Jazz Station Productions and distributed by Sony Music. Mr. DeSouteiro also provided the liner notes included on the CD booklet.
***************
Luiz Bonfá, "Introspection", RCA CD # 88697338532 (2010).[Digipak CD Reissue]
Reissue Produced by Arnaldo DeSouteiro (Jazz Station Productions)

Tracklist:
1. Enchanted Mirror
2. Summertime Love
3. Reflections
4. Concerto for Guitar
5. Rain
6. Leque
7. Missal (Estudo)
8. Adventure in Space

All songs written and performed by Luiz Bonfá
**********
Liner Notes (in Portuguese only):

Oito obras-primas formando uma obra de arte composta e executada por um gênio. Sem exagero algum, “Introspection” poderia ser assim definido. Mas este sublime CD, o terceiro gravado por Luiz Bonfá (1922-2001) para a RCA norte-americana, em outubro de 72, nunca editado em LP no Brasil, merece aclamação por muitos outros motivos. Cultuado mundialmente como um dos melhores álbuns de violão-solo na história da música, revela uma verdadeira música universal (favor não confundir com a empulhação da world-music) criada, da forma mais original e pessaol possível, por um artista que nunca admitiu fronteiras para a sua arte. E que, ao viajar para os EUA em 57, pagou um preço muito caro por tudo isso, sendo tratado com desprezo, e até deboche, pela mídia brasileira.

Deveria, mas não poderia ter sido diferente. Como suportar, sem inveja ou rancor, o sucesso internacional de alguém que, sem fazer parte de panelinhas, sem mendigar atenção das gravadoras, em suma, sem precisar do Brasil para viver, conseguiu se tornar um dos maiores compositores e violonistas do mundo? Bonfá lançou mais de 50 discos. Trabalhou com Tony Bennett, Elvis Presley, Frank Sinatra, Mary Martin, Julie Andrews, Lalo Schifrin, Eumir Deodato, Dom Um Romão, George Benson, Bobby Scott e Maria Helena Toledo. Além destes, também Sarah Vaughan, Carmen McRae, John McLaughlin, e, mais recentemente, Os Três Tenores (Domingo/Carreras/Pavarotti) gravaram algumas de suas 500 canções.

Entre elas, “Manhã de Carnaval” (um hino extra-oficial brasileiro) e “Samba de Orfeu”, ambas compostas para a trilha sonora de “Black Orpheus”, Oscar de melhor filme estrangeiro e Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1959. Ou seja: muito antes de ouvir bossa nova, o mundo já ouvia Luiz Bonfa! Não por acaso, foi o único artista aplaudido de pé no célebre concerto de bossa no Carnegie Hall, em 62. Claro: a única música já conhecida da platéia americana, dentre todas as tocadas naquela noite, era “Manhã de Carnaval”. E Bonfá continuou sendo ouvido cada vez mais, por conta de sucessos como “Menina Flor” (faixa de seu LP com Stan Getz, “Jazz Samba Encore!”, que permaneceu três meses na parada POP da Billboard em 63), “The Gentle Rain” (do filme homônino, em 65, transformado em jazz standard gravado por Benson, Oscar Peterson, Joe Pass, Jimmy Smith e Diana Krall), e “Almost in Love”, tema principal do filme “Live a Little, Love a Little”, estrelado por Elvis Presley em 68. Sim, Bonfá foi o único autor brasileiro gravado pelo Rei do Rock!

Outras proezas? Escreveu trilhas para 20 filmes (de “Os Cafajestes”, de Ruy Guerra, em 62, até “Prisoner of Rio”, sobre a vida de Ronald Biggs, em 89), excursionou pela Europa, EUA e Austrália, dividiu palcos com Dave Brubeck e Ron Carter, e, nas horas de folga, namorou atrizes como Ava Gardner e Catherine Deneuve. Cada vez mais ignorado no Brasil e reverenciado no exterior, foi agraciado com um modelo de violão desenhado especialmente para ele pela Ovation, em 82. Bateu o recorde de público do clube de jazz Fat Tuesday’s (NY) durante uma temporada em 87. Gravou os elogiadíssimos CDs “Non-Stop To Brazil” (em 89, faturando 4 estrelas e meia na Down Beat), “The Bonfá Magic” (Top 40 nas rádios de jazz dos EUA em 93) e “Almost in Love” (em dupla com Ithamara Koorax, Top 15 na parada japonesa em 96), além de atuar em dois discos de Toots Thielemans, “Brazil Project Vols.1 & 2”.

Sempre atual, porque atemporal, sua obra conquistou adeptos também na cena européia de acid-jazz, gerando faixas para diversas coletâneas. Em 96, a gravação de Koorax para “Empty Glass” ganhou um trip-hop remix. No ano seguinte, o grupo londrino Smoke City sampleou o violão de Bonfá, fazendo groove em “Bahia Soul”, para seu maior hit, “Underwater Love”, que virou jingle da Levi’s. O Planet Hemp sampleou “Jacarandá” na música “Se Liga”. Lord K, roqueiro iconoclasta, adicionou letra à vários temas de Bonfá, além de comporem três novas músicas juntos! O diretor Greg Motolla usou a gravação de Bonfá & Getz para “Sambolero” como tema principal do filme “Daytripper”, exibido no Brasil como “Um dia em Nova Iorque”. Para completar, Tom Cruise selecionou “Manhã de Carnaval”, cantada por Tori Amos, para a trilha de “Missão Impossível 2”. Já debilitado por sérios problemas de saúde, emocionava-se com o permanente interesse por seu trabalho.

Como certamente se emocionaria ao saber desta reedição em CD, pela primeira vez oficialmente, de “Introspection”, um de seus discos favoritos. Captado em outubro de 72 nos estúdios da RCA em NY, derruba vários mitos. Entre eles, o de que Bonfá não era um virtuose. Se não fosse, não conseguiria compor nem tocar nenhum dos temas de “Introspection”...Só não era exibicionista. Dava um show de técnica, sem ruídos, sem esbarrar, sem “trastejar”, mas não fazia da técnica o show. Por isso, seus detratores, tendo como parâmetros mestres do porte de Baden Powell e Rafael Rabello, de pegada forte e rústica, tida equivocadamente como a única “escola do violão brasileiro”, nunca conseguiram compreender a sonoridade límpida e aveludada, o toque sutilíssimo, a execução classuda, a concepção harmônica ultra-sofisticada de Bonfá. Em entrevista a Tribuna da Imprensa, em 89, o Deus do violão declarou: “Eu evito as posições convencionais, as progressões de acordes. Prefiro saltear, usar o oitavado disfarçado. Meu objetivo sempre foi enriquecer mais os acordes, sem malabarismos, e isso não depende só de técnica, é um conjunto de coisas”.

Depois de passar pelos selos Capitol, Atlantic, Philips, Verve, Epic, Mercury e Dot, Bonfá assinou com a RCA em 70. Gravou “The New Face of Bonfá” e, em 71, “Sanctuary”, com Ron Carter, Gene Bertoncini e Airto. Dois discos supimpas, mas de pouca repercussão. Sabia que o terceiro LP também seria o último, porque a RCA não renovaria seu contrato. Então radicalizou. Em dois meses, preparou todas as peças de “Introspection”, que podem ser entendidas como partes de uma suite, por ele próprio definida como “descritiva-impressionista, influenciada por Debussy e Ravel”. Nada de sambinhas, nem de bossa nova, nem de improvisos jazzísticos. Com seu violão, Bonfá pinta paisagens sonoras que conduzem o ouvinte a uma viagem por um santuário sonoro, um passeio ao paraíso.

A análise minuciosa de cada faixa daria um livro. Mas é impossível deixar de ressaltar a aula de dinâmica na execução de “Reflections”. As sutilezas da refinada harmonia de “Concerto for Guitar”. A transformação do violão numa orquestra em miniatura em “Rain” e “Leque”. O humilhante domínio do violão de 12 cordas (uma “craviola” fabricada pela Giannini) em “Summertime love”, de transbordante lirismo, e no transcendental “Missal”, de dimensão celestial. O uso de pedais de efeitos em “Enchanted Mirror”. Por fim, a engenhosidade arquitetônica de “Adventure in Space”, talvez o ponto alto do disco, com passagens de imensa dificuldade técnica, incluindo um tremolo que simula o motor de um foguete em propulsão. Em resumo, oito obras de arte formando uma obra-prima. Em duas palavras, Luiz Bonfá.

Arnaldo DeSouteiro
Musical Philosopher, Journalist, Jazz & Brazilian Music Historian, Record Producer, Educator, Member of JJA (Jazz Journalists Association), LAJS (Los Angeles Jazz Society), AIM, ABI, and Voting Member of NARAS-GRAMMY. Founder of the JSR (Jazz Station Records) label, a division of Jazz Station Marketing & Consulting - Los Angeles, California.
***********
Album credits:

Recorded in RCA's Studios A, B and C, New York City (1972)
Produced by Pete Spargo
Reissue Produced by Arnaldo DeSouteiro
Recording Engineer: Ray Hall
Cover Painting: Don Ivan Punchaz
Art Director: Acy Lehman
Original Liner Notes by Tom Paisley
Additional Liner Notes for CD reissue by Arnaldo DeSouteiro
Original Album released as RCA LP # FSP-297 (USA) in 1972
Digitally Remastered by Carlos Freitas & Jade Pereira at Classic Master Studio
CD Reissue Artwork: André Teixeira & Claudia Bandeira

Text for the tray card:
Gravado em 1972, em New York, no período em que o violonista e compositor fazia parte do cast da RCA norte-americana, "Introspection" é uma das obras-primas na discografia de Luiz Bonfá (1922-2001), um gênio que antecipou e depois transcendeu a bossa nova. Como provam as irrotuláveis brilhantes composições deste álbum, cultuado como um dos melhores discos de violão-solo na história da música.

3 comments:

Anonymous said...

Hi, I recently fell in love with this album and see from your post that it has been reissued on CD. I have tried googling the RCA product no. but nothing is coming up. Do you know if this reissue is still available or has it already sold out?!

Many thanks,

Ben

Arnaldo DeSouteiro said...

Hi Ben,
Thanks for reading and for your interest. All I know about this new reissue is on my post, sorry. I got one copy (which looks beautiful, btw, with a great remastering too) and, as I wrote, it's a limited edition of 1,000 copies.
Hope u succeed in finding one available through the cyberspace.
Congrats for your great work!
All the Best,
Arnaldo

Anonymous said...

Hi Arnaldo,

Many thanks for the quick reply. I'll keep an eye on ebay!

Best,

Ben