Dom Um Romão para antigos e novos fãs
O clássico baterista da bossa volta aos 75 anos de idade com Lake of Perseverance, disco que traz o mais castiço jazz ao lado da mais inovadora música eletrônica dançante
Silvio Essinger
22/02/2001
Dom Um Romão mergulha na dance music
Aos 75 anos de idade, o baterista Dom Um Romão (um dos participantes da gênese da bossa nova, que, em uma longa e internacional carreira, já tocou com Sinatra, Jobim, Tony Bennett, Weather Report, Jorge Ben, Herbie Mann, Elis, Marcelo D2, entre outros) mostra que não ficou vendo a banda passar. Chega às lojas (do exterior) esta semana Lake of Perseverance , seu segundo disco para a Jazz Station Records, do produtor Arnaldo DeSouteiro (o primeiro é Rhythm Traveller , de 98). Bem mais variado que o anterior, o CD é uma espécie de resposta à boa receptividade que seu som andou tendo entre a juventude européia que freqüenta as pistas de dança. Dom Um aprofundou seu envolvimento com a música eletrônica, o que resultou em alguns curiosos híbridos sonoros. Mas esta é apenas uma das facetas de Lake of Perseverance, disco repleto de variedade musical e participações de convidados especiais, que vão de Eumir Deodato e o DJ Marcelinho da Lua a Lord K e Danilo Caymmi.
Gravado no Rio e em Nova Iorque, o disco abre com a faixa-título, canção praieira dedicada a Dorival Caymmi, com quem Dom Um gravou, em 1964, um disco de Tom Jobim para a Elenco (Caymmi Visita Tom ). O baterista, radicado na big apple, conta a história: "Na última viagem ao Brasil, passei um dia todo com o Dorival e de noite acordei com uma melodia na cabeça." E a letra que veio não poderia ser mais Caymmi: "A maré num tá pra peixe/ hoje eu não vou pescar/ pois o mar tá muito forte/ minha jangada pode virar." Para gravá-la, Dom Um recorreu à velha bateria e a um arsenal de percussão (agogôs, ganzás etc). "Fiz uma batida bem louca, que não é samba e nem baião e ainda tem uma levada latina no meio", conta. Com piano e arranjos do ex-Mutantes Luciano Alves, banda de baixo, bateria e flauta, e vocais do baterista e de Ithamara Koorax, a faixa se destaca no disco. A composição volta no fim, como um improviso de voz e piano, na vinheta The Fisherman's Dream.
Eleito pela revista de jazz Downbeat em 2000 como o segundo melhor percussionista e o sétimo melhor baterista do ano, Dom Um conta que queria fazer de Lake of Perseverance um disco "criativo, moderno e arrojado, sem clichês ou embromação". O que nos remete a faixas como House Carnival (de Luciano Alves), com teclados característicos da house music, programações de bateria bem sacadas e um duelo percussivo do baterista (munido de tarol, surdo e chocalhos) com o percussionista Marcelo Salazar (nos bongôs e timbales). Com o adicional das curiosas intervenções vocais de Dom Um, essa gravação promete dar o maior pé nas pistas.
Outra boa faixa dançante de Lake of Perseverance é o funk-jungle Groovystation (de Salazar e Marcelinho da Lua). Ela vem bem misturada, com cavaquinho de Fernando Carvalho, scratches do DJ e vocais do baterista, no que vem a ser uma homenagem, feita num esquema intuitivo à Jorge Ben, ao compositor da bossa Carlos Pingarilho. A parte eletrônica do disco se completa com Apache Groove (de Danilo e Salazar), com a orquestra de agogôs, as flautas de madeira de Danilo e os timbales e congas de Salazar copulando em meio a uma tímida levada house, e Bit Box (Eumir Deodato), com programações e teclados do maestro que parecem ter saído lá do começo dos anos 80, da trilha de um Break Street.
A variedade sonora do disco não acaba por aí. Dom Um canta e brinca em Sambão, do organista (e mito da lounge music) Walter Wanderley, que contou com sua bateria na gravação original, instrumental (no disco Kee Ka Roo, de 1967, para a Verve). A tecladista Paula Faour faz uma boa homenagem a Walter, num solo de órgão. Mais samba? Tem uma versão da batida Mas Que Nada (só que gravada apenas com bateria e a voz de Ithamara, ao vivo no estúdio) e o heavy batuque Tentação (de Lord K e Teddy Kumpel). Jazz? Tem, mais para o fusion, em Eric's Stuff (do guitarrista Nani Palmeira e Dom Um, em homenagem ao falecido guitarrista Eric Gale), e mais tradicional em Naima (John Coltrane), com percussões climáticas, Afro Blue (Mongo Santamaria) e Blue Bossa (Kenny Dorham), esta com sax de Zé Bigorna. Uma coisa é certa: Lake of Perseverance não há desagradar nem aos antigos nem aos novos fãs de Dom Um Romão.
O clássico baterista da bossa volta aos 75 anos de idade com Lake of Perseverance, disco que traz o mais castiço jazz ao lado da mais inovadora música eletrônica dançante
Silvio Essinger
22/02/2001
Dom Um Romão mergulha na dance music
Aos 75 anos de idade, o baterista Dom Um Romão (um dos participantes da gênese da bossa nova, que, em uma longa e internacional carreira, já tocou com Sinatra, Jobim, Tony Bennett, Weather Report, Jorge Ben, Herbie Mann, Elis, Marcelo D2, entre outros) mostra que não ficou vendo a banda passar. Chega às lojas (do exterior) esta semana Lake of Perseverance , seu segundo disco para a Jazz Station Records, do produtor Arnaldo DeSouteiro (o primeiro é Rhythm Traveller , de 98). Bem mais variado que o anterior, o CD é uma espécie de resposta à boa receptividade que seu som andou tendo entre a juventude européia que freqüenta as pistas de dança. Dom Um aprofundou seu envolvimento com a música eletrônica, o que resultou em alguns curiosos híbridos sonoros. Mas esta é apenas uma das facetas de Lake of Perseverance, disco repleto de variedade musical e participações de convidados especiais, que vão de Eumir Deodato e o DJ Marcelinho da Lua a Lord K e Danilo Caymmi.
Gravado no Rio e em Nova Iorque, o disco abre com a faixa-título, canção praieira dedicada a Dorival Caymmi, com quem Dom Um gravou, em 1964, um disco de Tom Jobim para a Elenco (Caymmi Visita Tom ). O baterista, radicado na big apple, conta a história: "Na última viagem ao Brasil, passei um dia todo com o Dorival e de noite acordei com uma melodia na cabeça." E a letra que veio não poderia ser mais Caymmi: "A maré num tá pra peixe/ hoje eu não vou pescar/ pois o mar tá muito forte/ minha jangada pode virar." Para gravá-la, Dom Um recorreu à velha bateria e a um arsenal de percussão (agogôs, ganzás etc). "Fiz uma batida bem louca, que não é samba e nem baião e ainda tem uma levada latina no meio", conta. Com piano e arranjos do ex-Mutantes Luciano Alves, banda de baixo, bateria e flauta, e vocais do baterista e de Ithamara Koorax, a faixa se destaca no disco. A composição volta no fim, como um improviso de voz e piano, na vinheta The Fisherman's Dream.
Eleito pela revista de jazz Downbeat em 2000 como o segundo melhor percussionista e o sétimo melhor baterista do ano, Dom Um conta que queria fazer de Lake of Perseverance um disco "criativo, moderno e arrojado, sem clichês ou embromação". O que nos remete a faixas como House Carnival (de Luciano Alves), com teclados característicos da house music, programações de bateria bem sacadas e um duelo percussivo do baterista (munido de tarol, surdo e chocalhos) com o percussionista Marcelo Salazar (nos bongôs e timbales). Com o adicional das curiosas intervenções vocais de Dom Um, essa gravação promete dar o maior pé nas pistas.
Outra boa faixa dançante de Lake of Perseverance é o funk-jungle Groovystation (de Salazar e Marcelinho da Lua). Ela vem bem misturada, com cavaquinho de Fernando Carvalho, scratches do DJ e vocais do baterista, no que vem a ser uma homenagem, feita num esquema intuitivo à Jorge Ben, ao compositor da bossa Carlos Pingarilho. A parte eletrônica do disco se completa com Apache Groove (de Danilo e Salazar), com a orquestra de agogôs, as flautas de madeira de Danilo e os timbales e congas de Salazar copulando em meio a uma tímida levada house, e Bit Box (Eumir Deodato), com programações e teclados do maestro que parecem ter saído lá do começo dos anos 80, da trilha de um Break Street.
A variedade sonora do disco não acaba por aí. Dom Um canta e brinca em Sambão, do organista (e mito da lounge music) Walter Wanderley, que contou com sua bateria na gravação original, instrumental (no disco Kee Ka Roo, de 1967, para a Verve). A tecladista Paula Faour faz uma boa homenagem a Walter, num solo de órgão. Mais samba? Tem uma versão da batida Mas Que Nada (só que gravada apenas com bateria e a voz de Ithamara, ao vivo no estúdio) e o heavy batuque Tentação (de Lord K e Teddy Kumpel). Jazz? Tem, mais para o fusion, em Eric's Stuff (do guitarrista Nani Palmeira e Dom Um, em homenagem ao falecido guitarrista Eric Gale), e mais tradicional em Naima (John Coltrane), com percussões climáticas, Afro Blue (Mongo Santamaria) e Blue Bossa (Kenny Dorham), esta com sax de Zé Bigorna. Uma coisa é certa: Lake of Perseverance não há desagradar nem aos antigos nem aos novos fãs de Dom Um Romão.
No comments:
Post a Comment