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Entre os muitos e estranhos caminhos que levam uma pessoa a sair de seu país e radicar-se no exterior, o de Gaudêncio Thiago de Mello é, sem dúvida, dos mais interessantes.
Nascido em Manaus...Gaudêncio cresceu em meio aos sons produzidos pelos rios, pelo vento e pelos pássaros de sua terra e, também, ouvindo a irmã e o irmão tocando peças clássicas no piano e violino.
Começou a estudar arquitetura, mas formou-se mesmo como técnico diplomado em futebol e, como tal, dirigiu o time Uberaba Clube, de Minas Gerais, e – como auxiliar técnico - foi campeão carioca, em 1961, e campeão do Torneio Gomes Pedrosa (Rio – São Paulo), em 1962, pelo Botafogo do Rio de Janeiro em plena era Garrincha.
[Mais tarde] mudou-se para a Colômbia, onde trabalhou nos times do Deportivo Cali e Unión Magdalena e, de lá, foi diretamente para Nova York trabalhar no New York Generals, depois N. Y. Cosmos, time no qual, mais tarde, jogou Pelé.
Você já deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com música... Pois foi em Nova York, aos 33 anos de idade, que Gaudêncio Thiago de Mello teve a oportunidade de dedicar-se ao estudo daquilo que mais lhe interessava na vida, justamente, a música.
Estudou violão clássico e, em 1970, fundou a Sociedade de Violão das Nações Unidas, que dirigiu por mais de dez anos. Além disso, foi professor por 29 anos da Rudolf Steiner School de Nova York, onde criou e dirigiu a Banda de Jazz da escola.
Além do violão, Gaudêncio dedica-se à percussão. Mas não à percussão a que estamos acostumados e, sim, à percussão orgânica. Ou seja, com instrumentos como boca do mato, boca-de-barro e pau de chuva, entre outros, construídos com pedaços de madeira da Amazônia e cascos de tartaruga.
O primeiro disco gravado por Gaudêncio, em 1973, "Amazon", teve as participações de Dom Salvador ao piano, Airto Moreira na percussão, Paulo Moura no sax alto, Don Payne no contrabaixo e Cláudio Roditi no trompete, entre outros. Este disco, cujas matrizes foram destruídas em um incêndio, foi recuperado e lançado em CD em 1999 pelo produtor Arnaldo DeSouteiro a partir de uma cópia em vinil.
Com diversos discos gravados e três indicações para o Grammy, tanto como instrumentista quanto como compositor, Gaudêncio segue praticamente desconhecido no Brasil, apesar de ter muito prestígio nos Estados Unidos e na Europa e de trabalhar com grandes músicos brasileiros e estrangeiros.
No ano passado, com produção dele e de Flávio Goulart, lançou "Amor Mais-Que-Perfeito" pelo selo carioca Ethos Brasil, com as participações de, entre outros, Ithamara Koorax, Fátima Guedes, Cris Delanno, Délia Fischer, Haroldo Mauro Jr., Hamleto Stamato, Paulo Sérgio Santos, Zé Carlos Bigorna, Márcio Bahia, Adriano Giffoni, Paulo Russo e do pianista norte-americano Cliff Korman.
Agora em 2007, sob produção de Arnaldo DeSouteiro, para seu selo JSR (Jazz Station Records), Gaudêncio lança "Another Feeling" em parceria com o clarinetista e saxofonista Dexter Payne, disco no qual, além da percussão orgânica em todas as faixas, toca violão em duas faixas e piano em uma. Todas as músicas são dele, à exceção de um tema tradicional de domínio público. Gaudêncio e Payne são co-produtores do CD.
Com arranjos de Gaudêncio nas 13 faixas do CD, o disco traz as participações dos pianistas brasileiros Hélio Alves e Haroldo Mauro Jr. e dos norte-americanos Richard Kimball e Cliff Korman, além da presença mais do que luxuosa de Ithamara Koorax em quatro faixas.
Portanto, com esses dois discos, quem ainda não conhece Gaudêncio Thiago de Mello tem uma oportunidade de ouro para embarcar em sua obra e fazer, com certeza, uma belíssima viagem por seu universo sonoro e, de quebra, celebrar a vitória da música sobre o futebol. "Another Feeling" é um lançamento do selo JSR.
Maria Luiza Kfouri, MN Music News, Brazil
12/07/2007
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