Tuesday, June 19, 2007

R.I.P: Carmen Costa


A "jazzwoman" Carmen Costa

Claro que o título acima é uma provocação aos jazzófilos puristas, pseudo-intelectuais, falsos connoisseurs, chatonildos de plantão. Mas desde o falecimento de Carmelita Madriaga Costa, em 25 de abril de 2007, eu estava me devendo os comentários sobre a fase "jazzística" da artista. Ou melhor, de sua faceta como "jazzwoman". Não exatamente na condição de cantora, mas de percussionista, quando fez sua segunda viagem aos Estados Unidos.

Entre 1959 e 1964, Carmen Costa gravou bastante como ritmista (o termo mais usado naquela época), além de ter atuado em shows com Sivuca e participado do histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall em 1962. Ao lado do baterista José Paulo e do excepcional violonista Bola Sete (do qual os garotos de Ipanema sempre debocharam, por ser negro e ter entrado no palco tocando "violão nas costas" - claro que tudo isso por inveja da fama que Bola, em 62, já usufruia nos EUA), Carmen aarrasou! Cantou "Bossa Nova York" (composição sua em parceria com José Paulo), incluida como segunda faixa no LP gravado ao vivo naquela noite histórica. E seu nome foi o terceiro na capa do álbum, abaixo apenas de João Gilberto e Bola Sete.

Mas o que eu queria mesmo pontuar, e que passou em branco nos obituários, foi sua atuação como ritmista em discos de grandes jazzmen como Dizzy Gillespie, Stan Getz, Gary McFarland, Bob Brookmeyer e Lalo Schifrin. Geralmente tocava cabassa (o nosso afochê), mas às vezes se arriscava em outros instrumentos de percussão, como provam suas performances com Gillespie reunidas na caixa "The complete small group sessions", lançada pelo selo Mosaic em 2006. Entre as faixas das quais participa, inclusive cantando, estão a sua composição "Pergunte ao João" e a marchinha "Me dá um dinheiro aí" (composta em 1959 por Homero, Ivan e Glauco Ferreira), grande sucesso do Carnaval de 1960 na voz de, pasmem!, Moacir Franco, embora Marlene e Elizeth Cardoso também tenham gravado o tema.

Em 2002, ao produzir para a Universal a compilação "A trip to Brazil vol.3: Back to Bossa", inclui "Samba de Orfeu", uma das músicas do álbum "Trombone jazz samba", de Bob Brookmeyer. Gravada para a Verve em 21 de agosto de 1962, sob a produção de Creed Taylor, contava com o seguinte time: Jim Hall, Jimmy Raney, Gary McFarland, George Duvivier, Willie Bobo, e mais Carmen Costa (cabassa) e José Paulo (pandeiro). A dupla Carmen & José Paulo, junto com Chris White, Rudy Collins e novamente Jim Hall, participou de outra faixa, "Rapaz de bem", extraída do LP "Piano, strings, and bossa nova", gravada por Lalo Schifrin em 24 de outubro de 1962 para o selo MGM. Carmen também marcou presença no elogiadíssimo "Big band bossa nova", encontro de Stan Getz com o arranjador Gary McFarland. Idealizado por Creed Taylor, captado em 27 & 28 de agosto de 1962, traz Carmen dividindo o estúdio com Clark Terry, Hank Jones, Romeo Penque, Jim Hall, Bob Brookmeyer e outros medalhões.

Vale lembrar também sua parceria com João Donato na música "Sambolero", gravada pelo vibrafonista Dave Pike no álbum "Bossa nova carnival". Na ficha técnica, os autores citados são Donato e uma certa "Dom Madrid", pseudônimo, sabe-se lá a razão, adotado por Carmen para assinar suas composições. (Claro que Madrid deve vir de seu sobrenome Madriaga - mas e daí?)

Através de Donato, conheceu o lendário Mongo Santamaria, sendo convidada a participar de discos gravados pelo congueiro para a Riverside. Entre eles, "Go, Mongo!", de 62, no qual cantou "Tumba Le Le", repescada na coletânea "Skin" lançada pela Milestone em CD em 1989. Donato já havia deixado o grupo de Mongo e seu substituto era um de tal de Chick Corea...

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